MULHERES, MIGRAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO:

A CONDIÇÃO DAS MÃES HAITIANAS EM CHAPECÓ/SC

Autores

Palavras-chave:

Maternidade imigrante, Mercado de trabalho, Mulheres haitianas

Resumo

A maternidade, somada à condição de imigrante, impõe barreiras adicionais à trajetória profissional das mulheres haitianas que vivem no Brasil  (Baeninger et al., 2021; Bordignon, 2016). O objetivo deste estudo foi analisar, sob a ótica das mães haitianas, os desafios enfrentados para o ingresso e a permanência no mercado de trabalho brasileiro, com foco no município de Chapecó (SC). A cidade abriga mais de 17 mil imigrantes, dos quais aproximadamente 4 mil são mulheres haitianas formalmente empregadas  (Chapecó, 2022; Cavalcanti et al., 2024). A inserção feminina no mercado de trabalho é resultado de lutas históricas, mas ainda reflete desigualdades, onde a maternidade é socialmente construída como responsabilidade quase exclusiva das mulheres, impactando suas carreiras (Biroli, 2018; Pinto, 2022). Mulheres dedicam quase o dobro de tempo que os homens aos cuidados e afazeres domésticos, afetando sua participação e ascensão profissional (IBGE, 2024). Para mulheres imigrantes haitianas, a realidade é agravada pela barreira linguística, dificuldade no reconhecimento de diplomas e pela precarização laboral, empurrando-as para trabalhos informais ou de baixa qualificação (Magalhães, 2017; Handerson, 2015). A adaptação cultural e a desvalorização de qualificações afetam a saúde física e mental, somando-se à sobrecarga de tarefas domésticas e de cuidado com os filhos sem uma divisão justa (Bomfim; Teixeira, 2015). O estudo adotou uma abordagem mista (quantitativa e qualitativa), de caráter descritivo e aplicado. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário online, com 73 mães haitianas residentes em Chapecó/SC, utilizando a técnica de amostragem por bola de neve. Os dados foram analisados com uso de frequências simples e agrupamento temático de respostas abertas. A maioria das participantes (66%) tem entre 25 e  33 anos e é casada ou vive em união estável (71,2%). A renda familiar concentra-se entre 1 e 2 salários-mínimos para 52,1%. Apesar de um grau de instrução relativamente alto (48% Ensino Médio, 27% Graduação), a área de atuação predominante é a operacional (produção, serviços gerais), com 72,60%. Isso indica que o potencial técnico, científico e intelectual dos imigrantes muitas vezes não é aproveitado, resultando em precariedade laboral e menores remunerações (Magalhães, 2017; Handerson, 2015). A maioria (64,4%) das mães tem filhos nascidos no Brasil. As mães cujos filhos nasceram no Haiti relataram maiores dificuldades na adaptação e no cotidiano escolar, principalmente devido à barreira linguística. Apenas 56,2% das respondentes estavam empregadas formalmente durante a gestação e tiveram acesso à licença-maternidade de 120 dias, enquanto 43,8% não tiveram o benefício por trabalharem informalmente. Uma parcela (13,5%) sentiu-se totalmente insegura ao comunicar a gravidez ao gestor, sugerindo um ambiente organizacional pouco acolhedor para a maternidade. O tempo de retorno às atividades laborais após o nascimento do filho é, em sua maioria, entre 4 a 6 meses (47,9%), mas 35,6% retornam antes dos 4 meses, muitas vezes em trabalhos informais. O cuidado dos filhos durante o trabalho é majoritariamente assegurado por creches públicas (53,4%) ou parentes (21,9%), evidenciando a dependência de políticas públicas. Entre os principais desafios relatados estão: a dupla ou tripla jornada de trabalho, a discriminação e o racismo no ambiente profissional, a falta de apoio institucional e as dificuldades no acesso a direitos trabalhistas. Além disso, foram apontadas experiências de discriminação e racismo no ambiente de trabalho. A dificuldade linguística afeta tanto a inserção laboral quanto o apoio escolar aos filhos. A pesquisa conclui que as mães haitianas vivenciam exclusões múltiplas e invisibilizadas, mas também constroem estratégias de resistência e sobrevivência. Reconhecer essas vivências é essencial para a construção de políticas públicas sensíveis à maternidade imigrante, especialmente em cidades com alto fluxo migratório como Chapecó.

Biografia do Autor

  • Luana Morais de Aguiar, Universidade Federal de Santa Catarina

    Mestranda em Administração Universitária pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialista em Gestão Estratégica em Gestão de Pessoas (2020). Graduada em Administração Pública pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2013). Atualmente é servidora técnico-administrativa ocupante do cargo de assistente em administração na Universidade Federal de Santa Catarina. Mãe do Noam e da Moana. 

  • Kelly Cristina Benetti Tonani Tosta, Universidade Federal da Fronteira Sul

    Professora Associada da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS. Doutorado (2012) em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestrado (2008) e Graduação (2005) em Administração também pela Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência profissional na área de gestão de pessoas, tendo atuado como Diretora de Gestão de Pessoas da UFFS em 2010/2011 e também atuou como Chefe de Gabinete de 2011-2016. Atua como Professora do Mestrado Profissional em Administração Pública - PROFIAP e, em convênio, como Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisa principalmente os seguintes temas Administração Universitária, Gestão de Pessoas, Gestão de Competências, Gestão da Inovação e Educação a Distância. Mãe da Alice, do Bento e do Lucas. 

  • Michelene Damis Dera, Universidade Federal da Fronteira Sul

    Graduada em Administração pela Universidade Federal da Fronteira Sul.

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Publicado

26-09-2025