SUPEREXPLORAÇÃO E OS IMPACTOS MIGRATÓRIOS NO OESTE CATARINENSE

Autores

  • Lorrayna Maria Freitas Limeira Universidade Federal da Fronteira Sul
  • LUCAS SOARES CARVALHO GOULART MOURA UFFS

Palavras-chave:

Migração, Superexploração, Trabalho

Resumo

Chapecó, no Oeste Catarinense, consolidou-se como um polo agroindustrial estratégico, impulsionado pela indústria da carne, com multinacionais como BRF e JBS inseridas em cadeias produtivas globais. Apesar do crescimento econômico, marcado por exportações e lucratividade, observa-se a precarização das condições laborais, especialmente entre trabalhadores de frigoríficos, muitos deles imigrantes haitianos e venezuelanos. Estima-se que Chapecó abriga cerca de 3 mil haitianos e quase 19 mil venezuelanos, sendo a agroindústria o principal setor de inserção laboral desses grupos. Entretanto, o processo de inserção se dá em um contexto de superexploração, intensificado durante a pandemia de Covid-19, quando trabalhadores ficaram expostos a jornadas sem flexibilização e a contaminações em massa. O trabalho objetiva analisar a relação entre a inserção da população imigrante no mercado de trabalho agroindustrial em Chapecó e os mecanismos de superexploração do trabalho e da terra, evidenciando as contradições entre crescimento econômico e vulnerabilidade social. A discussão fundamenta-se em Ruy Mauro Marini (1973), que define a superexploração como característica estrutural das economias periféricas, sustentada pela intensificação da mais-valia absoluta por meio da redução salarial e da ampliação da jornada. Em diálogo, Marx (2011) contribui para compreender a dinâmica de exploração do trabalho no capitalismo, e Milton Santos (2001) define a globalização como processo “perverso”, concentrador de poder e promotor de desigualdades. Estudos sobre migração no Oeste Catarinense (Bernartt et al., 2015; Risson, Dal Magro e Lajús, 2017; Souza, 2020) e análises mais recentes sobre a interiorização de venezuelanos pela Operação Acolhida (Hineraski, 2024) permitem articular as condições locais com a conjuntura migratória. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico e documental, baseada em literatura da teoria da dependência, análises sobre globalização e urbanização no Oeste Catarinense, além de relatórios e dados institucionais. Foram mobilizadas fontes acadêmicas, jornalísticas e oficiais sobre imigração haitiana e venezuelana, bem como estudos de caso sobre Chapecó e sua agroindústria. Os resultados demonstram que a consolidação de Chapecó como polo agroindustrial intensificou um modelo de desenvolvimento marcado pela exploração do território e da força de trabalho. A inserção laboral de imigrantes, especialmente haitianos e venezuelanos, ocorre em setores precarizados, caracterizados por longas jornadas, riscos ocupacionais, adoecimento e subnotificação de acidentes de trabalho. A pandemia de Covid-19 reforçou essas vulnerabilidades, expondo imigrantes a altos índices de contaminação. Paralelamente, o processo de urbanização acelerada ampliou desigualdades sociais e espaciais, com segregação urbana e degradação ambiental. Em síntese, o estudo evidencia que a globalização, ao mesmo tempo em que promove a inserção de Chapecó nas cadeias globais de produção, aprofunda desigualdades locais e perpetua relações de superexploração. O caso ilustra como o desenvolvimento agroindustrial, articulado a fluxos migratórios recentes, produz contradições entre lucro empresarial e dignidade humana. Assim, torna-se urgente o fortalecimento de políticas públicas que assegurem direitos trabalhistas, justiça social e condições dignas para populações imigrantes.

Biografia do Autor

  • LUCAS SOARES CARVALHO GOULART MOURA, UFFS

    Estudante de licenciatura em Ciências Sociais. 

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Publicado

26-09-2025