OFICINA COMO INSTRUMENTO DE REFLEXÃO SOBRE DIVERSIDADE CULTURAL E IMIGRAÇÃO ENTRE PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Resumo

Contextualização: Chapecó é o terceiro município brasileiro com maior número de imigrantes. Em 2024, a cidade registrou mais de quatro mil novos residentes estrangeiros, sendo aproximadamente 80% de origem venezuelana. Esse dado evidencia a  necessidade de atenção especial das políticas públicas, sobretudo na área da saúde. O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) Equidade, busca fomentar estratégias de formação e intervenção que ampliem o olhar dos estudantes e trabalhadores da saúde para as desigualdades estruturais que impactam diretamente o processo saúde-doença-cuidado. Objetivo: Relatar a experiência de desenvolvimento de uma oficina sobre diversidade cultural e imigração com trabalhadores da saúde de um Centro de Saúde da Família (CSF) de Chapecó. Aporte teórico: Oficinas são ferramentas para a disseminação de conhecimentos, pois promovem reflexão e estimulam a aplicação prática de habilidades, contribuindo para a melhoria da qualidade da assistência (Guaman et al., 2025). É fundamental que os profissionais da área da saúde estejam preparados para atender a população imigrante conforme a Lei de Migrantes (Brasil, 2017), que garante o direito à saúde nos estabelecimentos brasileiros, nos mesmos termos de um usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) de nacionalidade brasileira. Assim, incentivar e instrumentalizar a reflexão desses profissionais sobre a importância de desenvolver estratégias que auxiliem na assistência a essa população é primordial. Metodologia: A oficina foi realizada no mês de julho de 2025, com duração de 80 minutos, durante reunião mensal da equipe e teve a participação de 33 trabalhadores da saúde. Foi estruturada em quatro momentos: “Acolhimento e introdução à temática”, “Estranhamentos e Familiaridades”, “Mosaico Humano: (Re)conhecendo a Formação Étnica do Povo Brasileiro”, e “Projeção de vídeo que foi construído pelo grupo mostrando a realidade da imigração em Chapecó”. Resultados: A oficina foi iniciada com a leitura do texto “Nacirema”. Os profissionais foram convidados a citar quais elementos da cultura Nacirema lhes provocaram estranhamento, e citaram a escovação de dentes, os médicos-feiticeiros, os procedimentos estéticos e erotização do corpo feminino. A discussão foi deflagrada a partir da elucidação dos termos presentes como “latipsoh” e o próprio título, “nacirema”, que significam respectivamente “hospital” e “american” ao contrário, o que convidou à reflexão da aproximação desses estranhamentos com a cultura brasileira. Posteriormente, os participantes construíram um mosaico utilizando imagens e palavras que representavam as diferentes etnias, tradições e culturas. Ao término da construção, foi discutida a contribuição das diferentes etnias para a cultura brasileira; a importância do respeito aos diferentes processos migratórios; os preconceitos que ainda existem e formas de combatê-los no cotidiano do trabalho. Os profissionais utilizaram as imagens para citar características do perfil dos usuários imigrantes do CSF, como a superutilização do SUS, a relação das mulheres e seus companheiros, que atuam como intermediários do diálogo com os profissionais, e as diferenças culturais entre imigrantes haitianos e venezuelanos em relação aos cuidados domésticos e com os filhos. Citaram a barreira linguística como o principal desafio para o atendimento, ponderando como estratégias para minimizar essa fragilidade, a presença do tradutor e a disponibilidade de materiais traduzidos em diversos idiomas, como facilitadores da comunicação com estes usuários. O encerramento ocorreu com o reconhecimento dos desafios a serem superados e a necessidade de estratégias a serem implementadas. O vídeo foi encaminhado via Whatsapp para os profissionais. O retorno acerca da relevância da atividade pela equipe de saúde foi positivo, o que evidencia a importância de utilizar oficinas como um instrumento de reflexão sobre temáticas como imigrantes e diversidade cultural.