ESCOLA DO CANSAÇO: NEOLIBERALISMO E ADOECIMENTO DOCENTE

Autores

Palavras-chave:

Neoliberalismo, Cansaço Docente, Formação de professores, Burnout

Resumo

A presente pesquisa aborda o cansaço docente no contexto escolar contemporâneo atravessado pelo neoliberalismo, em que a produtividade, a eficiência e o imperativo do tempo afetam profundamente a experiência educativa. Inspirada na obra de Alice no País das Maravilhas (CARROLL, 2021), a pesquisa associa a figura do coelho branco - que vive angustiado com a limitação do tempo -, com a figura docente. Sob essa perspectiva, emerge a inquietação central do estudo: no império neoliberal, em que o tempo livre é subvertido e apropriado pelo mercado na busca ininterrupta por resultados, há espaço para ser docente? Diante disso, o objetivo geral da pesquisa é compreender em que medida o imperativo do tempo no neoliberalismo contemporâneo implica no cansaço docente e na experiência educativa escolar. De modo específico o trabalho objetiva: analisar como a burocratização impacta o tempo do professor; investigar de que maneira a sobrecarga afeta a prática pedagógica; compreender como a lógica neoliberal se relaciona com a intensificação do trabalho e à pressão por produtividade; identificar os fatores que levam à sobrecarga docente; e discutir as estratégias de resistência, adaptação ou enfrentamento desenvolvidas pelos professores diante dessa conjuntura. A pesquisa se inscreve na abordagem qualitativa, fundamentada na fenomenologia hermenêutica, visando compreender como o fenômeno estudado é percebido e vivenciado pelos professores. Assim, essa perspectiva teórica facilita na compreensão de como o fenômeno aparece e se faz presente nas múltiplas formas e aparências (SILVA; MEDINA; PINTO, 2012). Os procedimentos metodológicos envolvem revisão de literatura e análise de conteúdos digitais (vídeos, postagens, notícias e depoimentos de professores em veículos de mídia). A fonte empírica é sustentada por dados da FUNDACENTRO (LIMA et al, 2023), que apontam a saúde mental como principal problema enfrentado pelos docentes, além de reportagens da CNN Brasil (GOMES, 2023) e do jornal Estadão (GOMES, 2023) que destacam o avanço da síndrome de burnout na educação básica. O referencial teórico parte da compreensão do neoliberalismo como forma de vida, conforme Dunker (2017), o neoliberalismo opera pela produção de subjetividades. A essa leitura soma-se as contribuições de Picoli e Radaelli (2024), que apontam o neoliberalismo como um fenômeno educativo. Diante da formação dessas subjetividades no neoliberalismo, Han (2017) apresenta o burnout como resultado do excesso de positividade e autorresponsabilização, expressando a alma consumida. Nesta pesquisa, a figura do professor é fundamental, sendo considerado como um mestre-escola (MASSCHELEIN; SIMONS, 2014), ou seja, um sujeito que não atua apenas como técnico da instrução, mas como aquele que preserva o legado da humanidade e que permite a criação do novo. Na escola neoliberal, é justamente o mestre-escola que se assemelha ao coelho branco: angustiado e pressionado pela limitação do tempo, tem sua alma consumida enquanto corre angustiado pelos corredores escolares.

Biografia do Autor

  • Prof. Dr. Bruno Antonio Picoli, Universidade Federal da Fronteira Sul

    Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó. Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Líder, desde 2019, do Grupo de Pesquisa em Educação, Violência e Democracia - GRUPEVD/UFFS. Tem interesse em Filosofia da Educação, sobretudo nas temáticas sobre Reacionarismo, Neoliberalismo, Extremismo de direita, Escola, Cuidado, Ética da Alteridade e Contraeducação.

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Publicado

23-09-2025

Edição

Seção

Formação de Professores: Conhecimentos e Práticas Educacionais