CAMINHOS DE PERMANÊNCIA: A EXPERIÊNCIA DE UM ESTUDANTE INDÍGENA NA UFFS
Palavras-chave:
Inclusão indígena , assistência estudantil permanência acadêmica, EnfermagemResumo
Contextualização: A presença de estudantes indígenas no ensino superior representa uma conquista histórica no processo de democratização do acesso à educação e de valorização da diversidade cultural nas universidades públicas brasileiras. Na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), o Programa de Acesso e Permanência dos Povos Indígenas (PIN) tem possibilitado o ingresso de estudantes oriundos de diferentes etnias e territórios, articulando-se às ações da Política de Assistência Estudantil para garantir condições de permanência e formação qualificada. No curso de Enfermagem, a presença indígena amplia o olhar sobre o cuidado em saúde, a partir de outras culturas. Contudo, o percurso acadêmico desses estudantes ainda se depara com desafios relacionados à adaptação cultural, às dificuldades socioeconômicas e à necessidade de fortalecimento do apoio institucional. Objetivo: Relatar a trajetória de um estudante indígena matriculado no segundo semestre do curso de Enfermagem da UFFS, destacando as experiências de inclusão, os desafios enfrentados e as estratégias de permanência possibilitadas pelas políticas institucionais, especialmente o PIN e os programas de assistência estudantil. Aporte teórico: A reflexão fundamenta-se nos princípios da interculturalidade, entendida como um processo de diálogo e reconhecimento entre saberes distintos, e na concepção de educação superior como espaço de emancipação e construção coletiva do conhecimento (FREIRE, 1987). Também dialoga com autores que discutem a inclusão e a permanência indígena na universidade (SANTOS, 2019; GOMES, 2021), ressaltando que a efetivação das políticas afirmativas vai além do acesso, exigindo transformações pedagógicas, institucionais e culturais. Metodologia: Trata-se do relato de experiência, construído a partir da vivência pessoal do autor como estudante indígena da UFFS. Foram resgatadas vivências acadêmicas e conversas informais com colegas e professores, observando-se situações cotidianas do curso, como aulas teóricas, práticas e vivências nos serviços de saúde. O relato busca evidenciar percepções sobre o ambiente universitário, as relações interculturais e as estratégias institucionais que contribuíram para a permanência no curso. Resultados e discussão: A experiência de ingresso pelo PIN foi marcada por sentimentos de conquista e pertencimento, mas também por desafios de adaptação à linguagem acadêmica, às metodologias de ensino e às exigências da vida universitária. O apoio da Política de Assistência Estudantil, por meio de auxílios financeiros e acompanhamento pedagógico, foi fundamental para garantir condições de permanência. O diálogo com professores sensíveis à diversidade cultural contribuiu para fortalecer a identidade indígena e valorizar saberes comunitários nas práticas de Enfermagem. Entretanto, ainda há barreiras institucionais e curriculares, como a ausência de disciplinas específicas sobre saúde indígena e a dificuldade de compreensão por parte de alguns docentes sobre a realidade sociocultural dos povos originários. A troca com outros estudantes indígenas e a participação em projetos de pesquisa e extensão voltados à saúde intercultural fortalecem a presença do indígena na universidade. Considerações finais: A trajetória de estudantes indígenas na UFFS reafirma a importância das políticas afirmativas e de assistência estudantil como instrumentos de justiça social e reconhecimento da diversidade. Contudo, a efetivação plena da inclusão exige o compromisso permanente da universidade em promover ações interculturais, formação docente e apoio psicossocial contínuo. O relato busca contribuir para o debate sobre a construção de uma universidade plural, comprometida com o diálogo entre saberes e com a formação de profissionais de saúde sensíveis às diferenças culturais.
