ENTRE (DES)ACOLHIMENTOS E SUPERAÇÕES: O INGRESSO DE MULHERES COM MAIS DE 25 ANOS EM LICENCIATURAS DA UFFS – CAMPUS CHAPECÓ
Resumo
Esta comunicação percorre o caminho de estudantes mulheres que ingressaram no Ensino Superior após vivenciarem interrupções no seu processo formativo. Conhecendo estas histórias nos deparamos com a realidade de pessoas que carregam marcas deixadas pela classe social à qual pertencem, por seu gênero e pela cor/raça. Assim, aqui apresentamos um recorte da pesquisa desenvolvida no PPGE da UFFS - Campus Chapecó (2025), cujo objeto foi pesquisar, em perspectiva interseccional, as trajetórias/histórias de vidas de mulheres, que ingressaram em licenciaturas no referido campus, após os 25 anos de idade. São estudantes/mulheres cuja análise leva em consideração a existência das sobreposições de violências, entre classe e gênero e o desencadear de desafios embutidos a partir desta intersecção. A metodologia utilizada foi a roda de conversa baseada na obra de Moura e Lima (2014), aplicada em dois encontros de natureza diversa, sendo um presencial e outro de forma online, onde foram ouvidas uma representante de cada curso de licenciatura disponível, totalizando sete mulheres, egressas e estudantes. A roda de conversa proporcionou trocas interativas entre as participantes dos grupos, além de garantir liberdade na formulação e reformulação das perguntas, no decorrer do seu desenvolvimento. O estudo para o desenvolvimento das análises da pesquisa se amparou no conceito da interseccionalidade através de autoras como Akotirene (2022); Ribeiro (2017); Crenshaw (2014 e 2019); Collins e Bilge (2020) entre outras. A interseccionalidade foi um termo cunhado pela jurista americana Kimberle Crenshaw no final da década de 1980. Esse conceito tem sua origem na identificação e reconhecimento da existência de violências que se sobrepõem nas vivências das mulheres negras e passou a ser utilizado também na identificação de violência sentidas por outras pessoas, especialmente mulheres. A pesquisa tem como base epistêmica a Decolonialidade, a partir de Balestrin (2013); Grosfoguel (2021); Kilomba (2019) e Spivak (2010). A Decolonial é o movimento que percebe, se posiciona e busca meios de dar voz ao sujeito subalterno que foi colonizado, passando a considerar seus saberes e suas vivências como importantes (Balestrin, 2013). A proposta trazida pela episteme decolonial, aponta justamente para a necessidade de construção de meios para resgatar os saberes que estão fora do circuito hegemônico de produção do conhecimento. O movimento decolonial tece críticas atentas e constantes em relação ao colonizador que foi quem impôs seus costumes, seu modo de avaliar e enxergar as relações sociais, assumindo para si a legitimidade do poder através da opressão. As leituras nessa direção permitiram gerar reflexões para a compreensão da estrutura social da qual as participantes fazem parte. Compreender o local de vivências e fala das participantes, é ponto chave para compreender as dificuldades na formação escolar formal, anterior a sua entrada na graduação e, também acolher as dificuldades apontadas com o estranhamento produzido com o ingresso delas no ambiente acadêmico. Estranhamento que perpassa o acompanhar das dinâmicas acadêmicas em sala de aula, como leituras de textos teóricos, realizar trabalhos, provas, estágios, Trabalhos de Conclusão de Curso; e dinâmicas externas, do cotidiano de cada participante, como adaptar funções de mães, trabalhadoras, esposas. E quiçá o maior desafio conciliar a vida acadêmica com a vida que pulsa em âmbito doméstico. Refletirmos especialmente acerca dos apontamentos compartilhados por elas após o ingresso no Ensino Superior, nos fornece elementos para repensarmos a importância do desenvolvimento de estratégias de aproximação com este público tornando o caminho do letramento acadêmico mais dinâmico, prazeroso e que seja um suporte que auxilie na permanência com sucesso destas estudantes na licenciatura escolhida.
