ESTUDANTES INDÍGENAS NO CAMPUS CERRO LARGO – DESAFIOS NOS 15 ANOS DE UFFS

Autores

  • Sheila Florczak Almeida Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Elenice Scheid Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Luís Carlos Rossato Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Marcivaldo Cardoso Lopes Universidade Federal da Fronteira Sul

Palavras-chave:

educação superior, estudantes indígenas, interculturalidade, permanência estudantil, diversidade cultural

Resumo

Ao longo dos 15 anos de existência da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Cerro Largo, o ingresso e a permanência de estudantes indígenas configuram-se como um processo histórico marcado por transformações significativas. Nos primeiros dez anos, o perfil desses estudantes era composto majoritariamente por jovens da Terra Indígena Guarita, pertencentes à etnia Kaingang, além de alguns Guarani não aldeados. A partir de 2021, especialmente após as mudanças nas formas de seleção e ingresso ocorridas durante a pandemia de Covid-19, inicia-se uma nova fase, caracterizada pela chegada de estudantes indígenas de diversas regiões do país, em especial do Amazonas, representando etnias como Tuyuca, Ticuna, Dessano, Baré e Tukano, além de Tupiniquim do Espírito Santo. Essa diversidade ampliou a visibilidade dos povos indígenas no campus e na cidade de Cerro Largo, município de pequeno porte com 13.705 habitantes, IBGE (2022). Em 2025, há 30 estudantes indígenas matriculados na UFFS/Cerro Largo, sendo quatro Kaingang e um Guarani da região — o primeiro estudante Guarani aldeado a ingressar no campus. Os demais pertencem a povos amazônicos, muitos dos quais têm o português como segunda língua. Essa realidade tem gerado impactos significativos na dinâmica universitária e na vida social do município. As escolas locais vêm sendo desafiadas a acolher crianças indígenas, filhas desses estudantes, que trazem diferentes repertórios linguísticos e culturais. O sistema de saúde também enfrenta novas demandas de comunicação e atendimento intercultural. Em 2025, duas crianças indígenas nasceram em Cerro Largo — possivelmente as primeiras registradas no município —, fato simbólico que reforça a presença e a integração das famílias indígenas na comunidade. O objetivo desta reflexão é compreender os desafios e as potencialidades vivenciados pelos estudantes indígenas no Campus Cerro Largo, analisando os impactos culturais e sociais decorrentes de sua presença na universidade e na cidade. Busca-se refletir sobre como as políticas de assistência estudantil e de inclusão podem fortalecer suas trajetórias acadêmicas e promover uma convivência intercultural mais justa e respeitosa. O aporte teórico fundamenta-se em estudos sobre interculturalidade e educação superior indígena, com base em Walsh (2009), que discute a interculturalidade como prática de reconhecimento e diálogo entre saberes, e Baniwa (2019), que destaca a presença indígena na universidade como forma de resistência e reconstrução epistemológica. Também dialoga com Fleuri (2003), que aborda a educação intercultural, e com políticas públicas voltadas à inclusão e permanência de estudantes indígenas no ensino superior brasileiro. A metodologia é qualitativa, de caráter exploratório e descritivo. Foram realizadas observações e diálogos com estudantes em atividades promovidas pelo Setor de Assistência Estudantil (SAE), buscando compreender experiências, dificuldades e estratégias de adaptação e pertencimento. Também houve participação em reuniões e eventos institucionais, onde esses estudantes se manifestaram. A escuta tem sido fundamental para identificar demandas emergentes e orientar ações de acolhimento e apoio. A presença de um estudante indígena na equipe do SAE tem contribuído para a interlocução e a contextualização das vivências, facilitando a compreensão intercultural. Os resultados parciais indicam que a presença indígena tem provocado mudanças significativas na cultura institucional da universidade e na cidade. A participação dos estudantes em atividades acadêmicas e de convivência é cada vez mais visível. Ainda que haja avanços, persistem desafios quanto ao acolhimento e à valorização cultural. Conclui-se que é essencial fortalecer espaços de escuta e participação, tornando a universidade mais preparada para lidar com a diversidade e enfrentar questões como adaptação linguística, distância das aldeias, saúde mental e condições socioeconômicas. Em 2025, a universidade celebra um marco simbólico: a formatura do primeiro estudante indígena da graduação, resultado concreto dos esforços institucionais pela inclusão e permanência.

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Publicado

28-11-2025

Edição

Seção

Permanência estudantil, diversidade e ações afirmativas: estudantes com deficiência; pais e mães; imigrantes; indígenas; LGBTQIAP+