TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS: UM ESTUDO COM ACADÊMICOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL, CAMPUS CERRO LARGO, RS
Palavras-chave:
transtornos mentais comuns, estudantes universitários, assistência estudantil permanência acadêmicaResumo
Pesquisas recentes apontam um aumento significativo do sofrimento emocional entre estudantes universitários, revelando maior prevalência de transtornos mentais nessa população em comparação à população geral. Esses dados evidenciam a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre vulnerabilidade e bem-estar psicológico nesse contexto (PENHA; OLIVEIRA; MENDES, 2020). Corroborando essa tendência, levantamento do FONAPRACE (2019) indicou que 83,5% dos discentes das universidades federais relataram dificuldades emocionais com impacto no desempenho acadêmico.
Nesse cenário, o estudo desenvolvido pela acadêmica Ariane Siqueira Barros, do curso de Administração da UFFS – Campus Cerro Largo, teve como motivação a experiência da pesquisadora como estagiária no Setor de Assuntos Estudantis (SAE), o que possibilitou maior aproximação com a realidade discente e reforçou a relevância das políticas institucionais voltadas ao suporte emocional e social.
O estudo teve como objetivos identificar a presença de Transtornos Mentais Comuns (TMC) entre os estudantes da UFFS – Campus Cerro Largo, analisar fatores do contexto universitário que contribuem para seu desenvolvimento e avaliar a percepção discente sobre a importância das políticas de assistência estudantil. A pesquisa, de abordagem quantitativa, foi realizada entre julho e dezembro de 2024, por meio de questionário on-line (Google Forms), composto por quatro blocos: (1) SRQ-20, para identificação de sintomas de TMC; (2) fatores institucionais associados; (3) avaliação da assistência estudantil; e (4) dados sociodemográficos.
Os resultados mostraram que 44,78% dos respondentes apresentaram sinais compatíveis com TMC. Houve alta prevalência de nervosismo (76,9%), dificuldades para dormir (50%) e cansaço constante (50,7%), configurando um perfil preocupante de comprometimento da saúde mental. Além disso, 35,1% relataram pensamentos depressivos, indicando a necessidade de ações preventivas e intervenções institucionais voltadas à promoção da saúde mental.
A análise por grupos revelou maior prevalência de TMC entre mulheres, jovens de 18 a 23 anos, estudantes com renda familiar de até três salários mínimos e aqueles que residem fora da cidade de origem, vivendo sozinhos ou com colegas. Esses achados apontam maior vulnerabilidade nos primeiros semestres da graduação e pressões adicionais nos semestres finais, associadas à conclusão do curso e à inserção no mercado de trabalho.
Entre os fatores institucionais associados ao surgimento de TMC, destacaram-se dificuldades de relacionamento interpessoal com colegas, professores e técnicos, pressão por alto desempenho acadêmico, sentimento de culpa por baixo rendimento, nervosismo constante, insatisfação com o curso escolhido, além de frustração, pensamentos de desistência e dificuldades de adaptação.
No que se refere à percepção sobre a assistência estudantil da UFFS, 81,3% dos participantes afirmaram já ter utilizado algum serviço do SAE; 58,21% receberam auxílio socioeconômico e 23,88% participaram do acolhimento psicológico. A avaliação geral foi positiva em 77,3% dos casos, evidenciando o reconhecimento do SAE como instrumento essencial para a permanência e o bem-estar acadêmico.
Em síntese, a pesquisa confirma a alta prevalência de sintomas de TMC entre os estudantes e reforça a importância de ampliar estratégias institucionais de acolhimento, apoio e cuidado no ensino superior, integrando a promoção do desenvolvimento acadêmico à atenção à saúde mental.
Os resultados suscitam reflexões sobre a necessidade de compreender o cuidado com a saúde mental como responsabilidade coletiva e institucional, e não apenas individual. Assim, destaca-se a urgência de reduzir o estigma associado ao sofrimento psíquico e de fortalecer políticas de promoção da saúde mental, voltadas à construção de um ambiente universitário mais saudável, acolhedor e humanizado.
