VAMOS FALAR UM POUCO SOBRE PERMANÊNCIA E EVASÃO ESTUDANTIL?
Resumo
O Projeto Estratégico para a Redução da Evasão nos Cursos de Graduação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que deu origem à Comissão de Estudos e Definição de Estratégias para a Redução da Evasão nos Cursos de Graduação, foi criado com o enfoque voltado para a gestão da evasão estudantil. Contudo, o envolvimento ativo de profissionais e especialistas em discussões eminentemente técnicas e instrumentais tinha como principal propósito encontrar mecanismos para facilitar o percurso acadêmico dos estudantes. Apesar das reuniões técnicas, discussões e ações de gestão acadêmica terem tomado grande parte da agenda de trabalho no âmbito do projeto, o olhar sobre a vivência e as experiências dos estudantes sempre esteve em evidência durante o planejamento, a execução e a avaliação das ações. No decorrer do projeto foram ouvidos gestores, servidores, ex-alunos (evadidos) e estudantes (ativos) dos cursos de graduação da UFFS. Alguns relatos de estudantes, coletados em pesquisa realizada no final do primeiro semestre de 2022 (SIMON, 2022), foram aqui condensados, pois compartilhar experiências é uma forma de demonstrar que as dificuldades enfrentadas individualmente podem ser as mesmas dos demais colegas e buscar ajuda na universidade é importante para encontrar alternativas e solucionar os problemas. Dentre os desafios que os estudantes relataram que enfrentam todos os dias estão questões socioeconômicas, familiares, pessoais e sociais, as quais concorrem com as exigências acadêmicas e estruturais que precisam estar atendidas para assegurar a
permanência. Questões como o perfil do curso, associado aos interesses formativos e profissionais dos acadêmicos também exercem impacto significativo sobre a permanência ou a evasão. Neste contexto, cabe perguntar também se os estudantes desistem por defender suas escolhas ou por se deparar com a falta de opção entre continuar ou não na UFFS, devido à imposição das circunstâncias enfrentadas em seu cotidiano pessoal, acadêmico e profissional. Entre as questões socioeconômicas, os estudantes relataram que conciliar os estudos com o trabalho e a vida pessoal é uma de suas maiores dificuldades, pois o trabalho é uma necessidade para assegurar a subsistência e concorre com a rotina de estudos e com a dedicação às obrigações acadêmicas. Do mesmo modo, o engessamento da grade curricular, associado à carga horária dos cursos e a pouca afinidade com o campo profissional do curso escolhido os desmotivam. O distanciamento entre estudantes e professores no que se refere às exigências do curso, as deficiências da educação básica, dificuldades de adaptação e preconceitos também influenciam no rendimento acadêmico e afetam a saúde mental dos acadêmicos. O apoio da assistência estudantil tem sido um diferencial na vida desses alunos. Contudo, as questões acadêmicas e estruturais também exercem impacto significativo na permanência. Além do esforço pessoal, por vezes sobrenatural, diversas ações conduzidas pela UFFS, como o atendimento para sanar dúvidas e cumprir prazos, a motivação e a ajuda de professores e monitores, a participação em eventos acadêmicos, a inclusão em projetos de pesquisa e extensão ou estágios, a obtenção de bolsas, a disponibilidade de espaços para estudo e os serviços de apoio como biblioteca e restaurante universitário foram diferenciais para evitar a evasão. Além disso, contar com os auxílios socioeconômicos foi substancial para prosseguir com os estudos. Neste sentido, cabe destacar, a partir dos relatos, que os professores, por exemplo, exercem papel fundamental tanto para atrair como para repelir estudantes, de modo que pensar a atuação docente associada a reformulação dos currículos dos cursos é fundamental para a redução da propensão à evasão. Por outro lado, fatores estruturais como moradia e transporte também são desafios que precisam ser enfrentados, pois estão diretamente relacionados à insuficiência de recursos financeiros e materiais.