Reflexos transformadores

como um espaço acolhedor no SAE fomenta a permanência universitária

  • Elenice Scheid
  • Luís Carlos Rossato
  • Sheila Florczak Almeida
  • Zenaide Maria Gamarra dos Santos
Palavras-chave: Acolhimento, Permanência, Inclusão

Resumo

Esta narrativa, originada da percepção da equipe do Setor de Assuntos Estudantis (SAE) do Campus Cerro Largo, destaca a transformação sutil, mas marcante, resultante da criação de um espaço de convivência dentro da sala do SAE, impactando positivamente a relação entre estudantes e servidores no ambiente acadêmico. A iniciativa modesta de criar um ambiente mais acolhedor na sala do SAE evoluiu para algo mais abrangente, influenciando positivamente a permanência e a participação dos estudantes nas atividades acadêmicas. A presença constante de estudantes no SAE, mesmo sem propósitos específicos, levou à configuração de um ambiente mais convidativo, equipado com sofás, pufes, mesa de centro e outros itens que promovem a interação e o relaxamento. A disponibilidade de chá e café adicionou um toque extra de conforto. O que começou como uma resposta simples e instintiva à presença dos alunos tornou-se uma ação deliberada do SAE, reconhecendo a importância da permanência e do bem-estar dos estudantes no ambiente acadêmico. O processo de familiarização do estudante com toda a novidade com a qual se depara ao chegar à universidade pode ser compreendida a partir do conceito de afiliação, conforme proposto por Alain Coulon, ao referir-se ao processo de tornar-se membro de um novo grupo e de um novo lugar. De acordo com o sociólogo, desenvolver um sentimento de pertencimento exige que o estudante estabeleça relações que vão além de frequentar às aulas e dar conta das atividades minimamente relacionadas ao seu curso, mas “implica se vincular, dialogar, realizar atividades com outros estudantes que permitem a eles reconhecer que enfrentam os mesmos problemas, utilizam as mesmas expressões e partilham do mesmo mundo” (COULON, 2008, p. 109). O espaço de convivência do SAE que apresentamos, de certa forma, dialoga com a perspectiva do autor nessa perspectiva, podendo contribuir para que o estudante sinta-se como pertencente ao mundo universitário. A análise dessa experiência revelou uma série de efeitos positivos, dos quais destacamos os seguintes: permanência dos estudantes: Quase nenhum frequentador assíduo da sala abandonou o curso, evidenciando o papel crucial do espaço de convivência na sensação de pertencimento e apoio; identificação de pautas relevantes: A proximidade com os estudantes na sala permitiu à equipe do SAE identificar questões importantes, adaptando os serviços oferecidos para atender melhor às necessidades dos estudantes; ampliação do alcance do SAE: Os frequentadores tornaram-se divulgadores naturais das atividades do SAE entre seus colegas, ampliando espontaneamente o alcance do setor; indicação e acolhimento: Além de recomendar o SAE a outros colegas, os frequentadores regulares trouxeram estudantes que necessitavam de assistência, promovendo um ambiente de apoio mútuo; impacto positivo no bem-estar: A organização do espaço de convivência não apenas beneficiou os estudantes, mas também teve um impacto positivo na saúde mental dos servidores, tornando o ambiente de trabalho mais agradável e propício. Quanto ao perfil dos estudantes que frequentam regularmente a sala, notamos a presença proeminente de certos grupos: indígenas, imigrantes e migrantes são presenças diárias no Setor. É evidente que muitos desses estudantes vêm de longe de seus lares, indicando possivelmente que a convivência nesse espaço pode de alguma maneira reproduzir um ambiente familiar, ou ao menos proporcionar um sentimento de acolhimento e conforto em um ambiente menos formal dentro da Universidade. A rigidez da vida acadêmica, permeada por rituais, documentações e protocolos, parece, em parte, ser atenuada pela relação informal que surge nesse espaço sem um propósito formal específico. Estar ali simplesmente por estar, sem obrigação aparente, inicialmente revela uma familiaridade com o Setor - e, por extensão, com a própria Universidade. Essa conexão tende a gerar um comprometimento maior com a comunidade e com a vida acadêmica, levando-os a se envolverem por completo e a sentirem-se mais integrados à Universidade. Ademais, a diversidade entre os frequentadores assíduos, que abrange estudantes de distintas origens e culturas, destaca a natureza inclusiva do espaço criado. Este se configura como um local que acolhe as diferenças, fortalecendo a Universidade como um espaço para a livre expressão e manifestação. A experiência do espaço de convivência dentro da sala do SAE ilustra como pequenas mudanças podem desencadear grandes impactos na vida dos estudantes e na eficácia dos serviços oferecidos. Além de fortalecer o senso de comunidade, esse espaço revelou-se uma ferramenta na promoção do sucesso dos estudantes no ensino superior. Essa iniciativa não apenas criou um ambiente acolhedor, mas também reforçou a ideia de que espaços inclusivos e acolhedores desempenham um papel fundamental no bem-estar e no desempenho acadêmico dos estudantes universitários. 

Publicado
18-01-2024