CONCEPÇÕES DE HUMANIZAÇÃO PARA AS UNIVERSIDADES

  • Pedro Adalberto Aguiar Castro
  • Andressa Sasaki Vasques Pacheco
  • Lilian Wrzesinski Simon
Palavras-chave: Humanização. Universidade. Ensino Superior.

Resumo

A comunidade universitária deveria se sentir parte dela uma vez que, segundo Chauí (2003), as universidades são instituições sociais que refletem e atuam sobre a sociedade. Elas são guiadas por princípios e valores estabelecidos pela sociedade e que servem como referência a ser seguida pela própria sociedade. Por outro lado, nos últimos anos, a reforma do Estado neoliberal transformou a universidade, especialmente a pública, em uma organização social prestadora de serviços submetida à lógica do capitalismo, da produtividade, da flexibilidade e da competição. Isto precarizou a universidade e a qualidade de formação dos estudantes (CHAUÍ, 2003; SANTOS, 2004; BIANCHETTI; SGUISSARDI, 2017), como por exemplo para a lógica de apenas produzir diplomados ou publicação científica, sem se preocupar com a qualidade destes e muito menos com as pessoas que ali estão. Para contrapor esta mudança, estes autores defendem que a universidade seja mais valorizada, autônoma, democrática e comprometida com o desenvolvimento social. Além de ser capaz de produzir conhecimentos plurais, interculturais e transdisciplinares, reconhecer a diversidade epistemológica do mundo e que se comprometa com a transformação social e com a justiça cognitiva. Neste sentido, a humanização das universidades talvez possa contribuir com esta proposição. Mas o que seria a humanização para o contexto universitário? Este trabalho teve como objetivo responder este questionamento, identificando concepções acerca de humanização voltadas para o contexto das universidades. Para tal, foi realizada uma revisão da literatura utilizando um protocolo de busca sistematizada, considerando ‘humanização e universidade’ como os descritores principais, e alguns descritores excludentes relacionados à saúde e artes para aprimorar a busca. A primeira ideia de humanização que nos vem em mente pode ser a de que humanizar é o ato de dar qualidades humanas ou tornar alguma coisa ou conjuntos de coisas mais humana (GÜNEY; SEKER, 2012). Apesar de verdadeira, não é única. É preciso entender, conforme complemento os questionamentos apresentados por Kohli (1991), quem determina o que é ‘humano’ neste processo? O que pode se tornar mais humano? Existem princípios compartilhados sobre humanização que se aplicam tanto em contextos individuais quanto nos divergentes? Humanizar o processo educacional seria uma possibilidade? Seria a resposta humanizar o processo educacional para a democracia, justiça, liberdade ou equidade? Se sim, como esses conceitos serão implementados em uma sociedade específica? Minha intenção não é responder com precisão cada uma destas perguntas, mas usá-las como guia na busca de uma ou mais concepções do processo de humanização no contexto universitário. A partir da leitura dos documentos selecionados, foi possível identificar quatro grupos de concepções distintos, porém relacionados entre si que remetem à humanização nas universidades. O primeiro, ‘Humanização, educação e desenvolvimento do indivíduo’, está relacionado ao processo educativo humanizado do indivíduo, respeitando sua personalidade, objetivos pessoais, habilidades, necessidades e interesses. Já o segundo, ‘Humanização e as relações transformadoras do trabalho’, diz respeito à construção do ser humano a partir do trabalho e das relações sociais do trabalho, transformando o entorno para se satisfazer. O terceiro, ‘Humanização, libertação e empoderamento’, está relacionado à capacidade de análise crítica e questionadora do indivíduo de agir e mudar seu entorno para produzir uma sociedade mais justa e equitativa, primando pelo diálogo e aprendizado mútuo. Por último, temos a ‘Humanização e democracia’, cuja ideia é promover igualdade, liberdade e justiça com a participação de todos nos processos políticos e decisórios, priorizando o bem-estar individual e coletivo assim como alcançar seus potenciais máximos. Espera-se que, a partir destas concepções, novos estudos relacionados à humanização possam ser desenvolvidos e aplicados para o contexto universitário, inclusive para contribuir com a permanência estudantil.

Publicado
12-01-2024