A TRAJETÓRIA DA MULHER-MÃE NA CIÊNCIA

UM EXERCÍCIO DE ESCUTA COM BASE NOS ESTUDOS BAKHTINIANOS

  • Sândi Leite Caitano
  • Ana Beatriz Ferreira Dias
Palavras-chave: Maternidade. Análise do discurso. Meio acadêmico. Políticas de assistência.

Resumo

Desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), junto ao curso de Letras Licenciatura em Letras (Português e Espanhol), na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Cerro Largo (I/2023), a presente pesquisa busca explorar dimensões da experiência de mulheres que, sendo mães, ocupam lugares na produção científica brasileira como acadêmicas de cursos de graduação em universidade federal. Mais especificamente, este estudo problematiza as relações entre “maternidade e estudo”, tendo como material de análise discursos enunciados por mulheres. O objeto de estudo que adotamos para desenvolver este trabalho consiste em respostas dadas por mulheres a um questionário recentemente feito pela Pró- Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAE), no ano de 2022. O questionário faz parte da campanha para conhecer o perfil de estudantes UFFS que tenham filhos. No questionário, uma série de questões foram enunciadas para conhecer as necessidades desses sujeitos, como dimensões da estrutura física do campus, convívio entre colegas e docentes, etc. Procuramos conhecer elementos da realidade social desses sujeitos por meio de seus discursos. Assim, esta
pesquisa volta-se à análise de discursos como caminho para tecer compreensões acerca da trajetória de mulheres em suas atividades desenvolvidas na universidade. Para fins de delimitação do trabalho, selecionamos o campus de Cerro Largo, a qual também nos vinculamos, como critério de seleção dos enunciados. Dessa forma, analisamos as respostas dadas por mulheres que compõem a comunidade acadêmica da UFFS – Campus Cerro Largo. Importante destacar que o questionário elaborado pela PROAE não restringiu sua pesquisa a mulheres, mas a sujeitos que, de diferentes formas, exercem cuidado com bebês e/ou crianças. Cabe destacarmos que, para desenvolvermos esta pesquisa, tomamos como base as orientações teóricas e metodológicas formuladas pelo Círculo de Bakhtin, mobilizando principalmente o conceito de palavra como signo ideológico. De acordo com essa abordagem teórica, a palavra é o signo ideológico que mais aponta para as visões de mundo e valorações socialmente construídas, sendo impossível, de acordo com essa concepção, um texto ser “neutro”, destituído de pontos de vista, uma ótica axiológica acerca de algo da vida. Tendo a palavra como unidade de análise, desenvolvemos a compreensão dos enunciados no terreno do paradigma indiciário de leitura proposta por Ginzburg (1989). Importante mencionar que o pesquisador, ao ancorar suas análises no paradigma indiciário, busca pistas, como “detetive” para compreender os eventos, construir sentidos a partir do que lê e encontra, então, respostas possíveis (nunca respostas absolutas) às suas questões em uma trajetória de interpretação fundamentada em argumentos que justifiquem as leituras realizadas. Não se trata de uma verdade, mas sim de uma leitura possível, a partir de nossas possibilidades e no encontro com certos materiais de análise. A partir disso, observamos que, nas respostas dadas pelas
estudantes, a experiência com a universidade é, em geral, positiva, mas, contém alguns conflitos a partir do dito e o não dito. A ausência de políticas públicas que reduzam as desigualdades sociais e econômicas das mulheres se revela como fator gerador de situações adversas que pode não apenas levar à evasão das acadêmicas que são mães, mas a relações desafiadoras e negativas com filho(s), pois são mulheres que descrevem a sobrecarga advinda da impossibilidade de se exercer com plenitude e tempo verdadeiramente disponível suas ações ligadas à maternidade e ao seu período de formação acadêmica. 

Publicado
12-01-2024