PROFESSORES E/OU PESQUISADORES?

INICIAÇÃO CIENTÍFICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

  • Deyse Luciano De Jesus dos Santos UNINASSAU

Resumo

A formação acadêmica é um desafio a ser enfrentado durante o percurso formativo de todos aqueles que almejam a ascensão social através da educação. Nesse contexto, o trabalho de conclusão de curso pode ser considerado o grande problema a ser enfrentado pelos docentes, uma vez que ele é pré-requisito em todos os cursos e áreas de formação acadêmica, alterando somente os métodos de pesquisa e/ou campos de atuação da mesma de acordo à temática e área de produção. A opção pelo tema se deu por ser a pesquisadora em questão docente da área de metodologia da pesquisa, pesquisadora e orientadora com vasta experiência que apesar de buscar compreender esse processo a partir das dificuldades enfrentadas pelos discentes, vem observando ser esse um momento de grandes dissabores aos mesmos, e, também a docente que muitas vezes é apontada como o problema na dificuldade de construção dos textos. É muito comum ouvirmos em discussões em sala de aula que o discurso teórico é muito bonito, mas, que na prática não funciona. Para as professoras em formação, parece haver um distanciamento muito grande entre o que se aprende na universidade e o que se ensina na educação básica. É como se as teorias de aprendizagem, as propostas metodológicas e o planejamento fossem algo distante de uma realidade para a qual foi pensada. De acordo com o CNPQ a “Iniciação Científica” é o primeiro passo na carreira de um cientista, de um professor ou de um pesquisador” visão presente na concepção de Freire (1999) ao falar de pedagogia: “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”, ou seja, não há uma opção para a escolha do trabalho de conclusão de curso na formação de professores, na verdade o ato de pesquisar está diretamente relacionado ao ensinar e vice-versa. Uma vez que, se concebe desenvolvimento a partir da produção e elevação de conhecimento científico e tecnológico presentes no contexto social, pois tais conhecimentos servem como base para o desenvolvimento de um país, não se produz conhecimento sem pesquisa científica.  No Brasil, a defasagem na educação não se concentra somente na educação básica, o ensino superior ainda deixa muito a desejar quando falamos de direito de todos. Para os menos favorecidos alcançar essa etapa significa enfrentar um árduo percurso de negociações e conflitos entre suas realidades e necessidades de ascensão social. Por isso “...todo homem tenderia, naturalmente ao progresso. (...) que só pode ser alcançado através da razão” (SANTOS, 2005. P.39) ou seja é ele, o homem capaz de se aperfeiçoar em todas as áreas do conhecimento, mas, o conhecimento não chegou para todos os homens, - tomemos aqui os negros e indígenas - ou seja, a educação de fato, apesar de ser de direito, nunca foi para todos. Para muitos, adentrar o ensino superior depois das políticas públicas de reparação e redemocratização da educação pode não ser a etapa mais complexa, mas concluir o curso, e aqui a referência vai para a formação de professores, é, um problema devido ao fantasma da produção científica. A proximidade da escrita do trabalho de conclusão de curso, tira o sono, provoca insatisfações e conflitos no contexto educacional. Diante do contexto, apresentado questiona-se: Qual a concepção dos discentes do 8 semestre de pedagogia da Uninassau em Lauro de Freitas acerca da produção científica na formação de professores? Como bem aponta Tardiff (2013) é preciso considerar as vivências e experiências dos professores, pois fazem parte das subjetividades presentes na sua formação enquanto sujeito e profissional. É preciso também considerar que ainda é muito comum verificar-se a educação tradicionalista nos espaços educativos, e quando se trata da formação de professores, os mesmos “são com frequência retratados como estando presos a um aparelho de dominação que funciona com toda a precisão de um relógio suíço”.(GIROUX, 1997. P. 27) Vale ressaltar que o Giroux (1997) chama atenção para a importância de uma mudança nessa formação que deverá voltar-se a concepção de professores intelectuais transformadores. Como forma de responder o questionamento apresentado, a pesquisa objetivo compreender a concepção dos discentes do 8 semestre de pedagogia da Uninassau em Lauro de Freitas acerca da importância da produção cientifica em sua formação. A discussão gira em torno de uma pesquisa baseada no método social qualitativo, de base etnográfica, por ser a pesquisadora sujeito/objeto da pesquisa, donde é comum considerar a pesquisa de campo como condição sine qua non para levantamento dos dados, pois considera-se ser esse o momento de experiência do discente com o cotidiano da educação a partir do seu interesse e futura função por ele almejada. O campo da pesquisa foi a UNINASSAU Campus Lauro de Freitas e os sujeitos/colaboradores da pesquisa foram discentes do curso de pedagogia 8º semestre. Como base teórica metodológica utilizou-se Minayo (2012) e Michel (2005) que discutem a pesquisa social qualitativa. Para atender o objetivo da pesquisa foi levantado dentre os discentes o nível de dificuldade de escrita; identificada as dificuldades enfrentadas pelos mesmos ao longo da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso e analisado a importância e complexidade das disciplinas na compreensão dos discentes. Como técnicas de coletas de dados foram realizadas observações nas turmas TCCI de pedagogia em 2020.1 antes da pandemia, e aplicados questionário em ambiente remoto devido a necessidade do isolamento social, através do google forms, onde os discentes tiveram de 10 a 15 minutos para responderem as questões. Como critério estabeleceu-se a disponibilidade em responder o questionário e foram convidados alunos que estiveram assistindo a aula no dia 02/09/2020 noturno e 03/09/2020 matutino. Vale ressaltar que 99 alunas participaram da aula e somente 54 responderam o questionário.

De acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno (CNE/CP nº1), de 10/08/2006, no que tange as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, o curso deve apresentar um currículo que disponha de disciplinas obrigatórias, assim como dispor de atividades práticas que possam colocar em diálogo a discussão teoria e a prática docente. Ao discutir currículo e ideologia, Moreira e Da Silva (2002), aponta que a ideologia “está relacionada às divisões que organizam a sociedade e às relações de poder que sustentam essas divisões” (p.23) considerando que a iniciação científica chega às universidades privadas há pouco tempo, e que a maioria dos sujeitos que adentram essas instituições, fazem parte da grande classe trabalhadora, que perspectivas podemos trazer desses professores em formação quando a questão é ensino e pesquisa? Como se construíram esses sujeitos enquanto leitores e pesquisadores na educação básica? Nesse contexto, na UNINASSAU a iniciação científica fica a cargo dos componentes curriculares TCCI e TCCII, ambos com carga horária de 40 horas. Assim sendo, no sétimo semestre o discente é orientado a construção do projeto de pesquisa e no oitavo semestre o mesmo deverá ir a campo, coletar os dados e concluir a escrita apresentando a versão final em forma de artigo e defendendo o trabalho perante banca examinadora. O tempo de iniciação e produção da escrita científica é muito curto se considerar-se que os discentes só terão contato com essa discussão no seu último ano de formação. Além disso, a resistência, parte dos problemas enfrentados pelos discentes durante esse processo, visto que a maioria delas trabalham e têm família, sobrando pouco tempo para os estudos. Os dados da pesquisa revelaram que 57% atribuíram alta complexidade nas disciplinas de Trabalho de Conclusão de Curso, mas 63% consideram a iniciação científica de grande relevância para sua formação. No entanto, a relatarem as dificuldades com a produção, a maioria delas apontaram, falta de tempo, falta de concentração, dificuldades com leitura e escrita. Há ainda nesse contexto, o não pertencimento ao espaço institucional de ensino superior, que gera a dificuldade de compreensão acerca da “união da teoria com a prática, levando em consideração que não é um ambiente que eu esteja familiarizada” (dados da pesquisa 2020) Sendo assim, os dados apontam que apesar de todo o desempenho das discentes e o avanço nas políticas públicas para a educação, os espaços de produção científica ainda não faz parte do cotidiano de muitos brasileiros, mesmo estando estes na formação superior. As dificuldades e problemas enfrentados são provenientes da sua educação básica o que nos leva a considerar que a exclusão da produção intelectual docente vem de longas datas de sua formação nas instituições educacionais.

Publicado
14-12-2020
Seção
Trabalho Docente e Formação de Professores