INSERÇÃO DE IMIGRANTES NO MERCADO DE TRABALHO DE CHAPECÓ:

UMA ANÁLISE PRELIMINAR

Autores

  • KELLY CRISTINA BENETTI TONANI TOSTA Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Humberto Tonani Tosta Universidade Federal da Fronteira Sul
  • MATHEUS HENRIQUE RODRIGUES DA COSTA Universidade Federal da Fronteira Sul
  • WILVENS ANTOINE Universidade Federal da Fronteira Sul

Palavras-chave:

Imigrantes. Mercado de trabalho. Políticas públicas.

Resumo

 

Os movimentos migratórios sempre estiveram presentes ao longo da história da humanidade e, no Brasil, assumem relevância crescente nas últimas décadas. Em Santa Catarina, esse fenômeno ganhou maior visibilidade nos últimos 15 anos, inicialmente com a chegada dos haitianos em 2010 e 2011 (BAENINGER; PERES, 2017) e, posteriormente, com os fluxos provenientes da Venezuela a partir de 2018, tornando o estado o principal receptor de migrantes venezuelanos no país (G1 SC, 2023). Nesse cenário, Chapecó destaca-se como a cidade catarinense que mais acolheu imigrantes. A magnitude desse contingente populacional coloca em evidência desafios relacionados à inserção social e laboral, além de demandar políticas públicas adequadas para sua integração. Apesar dos esforços institucionais, a integração dos imigrantes encontra barreiras, principalmente no âmbito laboral. Estudos indicam que, em sua maioria, os imigrantes acabam inseridos em ocupações de menor prestígio ou rendimento, independentemente de sua formação acadêmica e experiência prévia, reproduzindo padrões observados em outros países receptores (CAVALCANTI, 2014). Isso gera um processo de “descida” na escala laboral e social, ampliando desigualdades e evidenciando a necessidade de diagnósticos que subsidiem políticas de mitigação (SILVA; MANDALOZZO; SILVA, 2018).

O objetivo central deste trabalho, parte de um projeto em desenvolvimento é analisar características do ingresso e permanência de imigrantes no mercado de trabalho em Chapecó-SC. Como resultado preliminar, a presente pesquisa concentra-se em identificar padrões migratórios recentes para o município, com base em dados secundários disponibilizados pelo Censo Demográfico do IBGE (2022) e pelo DataMigra BI, do OBMigra. A metodologia adotada na etapa atual privilegiou a análise quantitativa, com a sistematização dos dados provenientes das tabelas 10161 (imigrantes por país de origem) e 10211 (população total dos municípios) do Censo IBGE. Foram aplicados procedimentos de tratamento e cruzamento de informações com auxílio da biblioteca Polars em Python, possibilitando corrigir discrepâncias identificadas e calcular o percentual de imigrantes em relação à população total. Adicionalmente, os dados foram comparados com registros de residência e movimentações laborais disponibilizados pelo OBMigra e pelo CAGED. Os resultados revelam que Chapecó figura entre as dez cidades brasileiras com maior número de imigrantes, ocupando a 7ª posição no ranking nacional e a 1ª no estado de Santa Catarina, seguida por Florianópolis e Joinville. Quando considerada a proporção relativa, Chapecó aparece em 2º lugar no país, atrás apenas de Boa Vista (RR), com imigrantes representando aproximadamente 3% da população total. Entre 2011 e 2025, foram registrados 17.478 pedidos de residência em Chapecó, sendo 69,9% provenientes da Venezuela e 25,3% do Haiti (OBMIGRA, 2025). No mercado formal, observa-se uma intensa movimentação laboral. Em 2024, foram registradas 18.240 movimentações (10.304 admissões e 7.931 desligamentos), enquanto até agosto de 2025 já haviam ocorrido 9.453 movimentações. A maioria concentra-se nos setores da indústria e do comércio, refletindo tanto a demanda local por mão de obra quanto a vulnerabilidade desses trabalhadores a vínculos de alta rotatividade. Essa realidade sugere que, apesar da elevada taxa de absorção, há fragilidades em termos de estabilidade, ascensão e reconhecimento profissional. Conclui-se que a imigração em Chapecó assume proporções significativas, com impactos diretos no mercado de trabalho e na configuração social do município. Os resultados preliminares confirmam a relevância da cidade como polo de atração de fluxos migratórios e apontam para a necessidade de aprofundar a análise qualitativa junto aos próprios imigrantes, visando compreender suas percepções, aspirações e estratégias de inserção. Espera-se, assim, contribuir para o debate acadêmico e para a formulação de políticas públicas que promovam a integração efetiva, a valorização das competências dos imigrantes e a construção de um mercado de trabalho mais inclusivo e equitativo.

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Publicado

26-09-2025