DO ACOLHIMENTO À APRENDIZAGEM: 

EXPERIÊNCIAS DE ENSINO COM ESTUDANTES MIGRANTES

Autores

Palavras-chave:

Interculturalidade; Migração; Inclusão educacional

Resumo

Contextualização: A intensificação dos fluxos migratórios no Brasil tem transformado o cenário educacional, trazendo para salas de aula estudantes de diferentes origens culturais, linguísticas e de experiências de vida. Nesse contexto, a escola torna-se um espaço privilegiado de encontro intercultural, mas também de desafios relacionados à inclusão, à valorização dos saberes e à superação de barreiras linguísticas e epistemológicas, o que dialoga diretamente com a Lei de Migração (Brasil, 2017), que prevê princípios de igualdade de tratamento e acesso a políticas públicas. Migrantes que frequentemente carregam histórias de deslocamento, rupturas educacionais e desigualdades no acesso ao conhecimento formal. A interculturalidade, enquanto abordagem pedagógica e social, propõe uma educação que reconheça e integre essas diversidades, superando modelos homogêneos de ensino. No entanto, práticas educativas ainda se estruturam majoritariamente segundo parâmetros nacionais padronizados, com pouca flexibilidade para acolher e integrar os saberes e identidades de estudantes migrantes. Nesse cenário, torna-se essencial repensar estratégias pedagógicas que aliem o ensino formal ao reconhecimento das experiências culturais trazidas por esses sujeitos, fortalecendo sua participação e pertencimento no ambiente acadêmico. Objetivo: Relatar e analisar uma experiência de adaptação pedagógica voltada à inclusão de estudantes migrantes indígenas em uma universidade pública do oeste de Santa Catarina, destacando as estratégias interculturais adotadas para superar barreiras linguísticas, culturais e curriculares no processo de ensino-aprendizagem. Aporte teórico: O estudo fundamenta-se em abordagens críticas de interculturalidade (Hall, 2006) e na pedagogia dialógica de Freire (1996), compreendendo a educação como prática libertadora e culturalmente situada. Articula-se também com estudos sobre migração e educação (Candau, 2012), que apontam a necessidade de currículos inclusivos e políticas linguísticas que valorizem o plurilinguismo. Adota-se a perspectiva de que a universidade deve ser não apenas receptora, mas também mediadora entre diferentes sistemas de conhecimento, atuando na construção de um espaço de respeito mútuo e aprendizado compartilhado. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência de abordagem qualitativa e caráter descritivo. As atividades ocorreram ao longo do segundo semestre de 2024, envolvendo 15 estudantes migrantes e três professores, e três monitores. As estratégias metodológicas adotadas incluíram rodas de conversas, oficinas no laboratório e apoio visual, atividades interdisciplinares sobre culturas de origem e atividades de tutoria entre pares (peer learning). Também foram realizados encontros formativos com professores para discutir práticas pedagógicas interculturais e estratégias de avaliação adaptadas. Resultados: A experiência revelou que as barreiras de ensino e aprendizagem foram um dos principais desafios iniciais, dificultando a participação plena dos estudantes migrantes. O uso de recursos visuais e atividades práticas adaptadas, mostrou-se eficaz para favorecer a compreensão e a interação. Outro achado relevante foi a valorização da cultura de origem como elemento motivador: quando convidados a compartilhar histórias e tradições, os estudantes migrantes demonstraram maior engajamento e autoestima. A formação docente voltada à interculturalidade contribuiu para reduzir práticas de assimilação e fortalecer metodologias inclusivas. No entanto, observou-se que o currículo rígido e a ausência de políticas institucionais consolidadas para o atendimento de migrantes limitam a continuidade dessas ações. O estudo reforça a importância de que as instituições desenvolvam políticas claras, mantenham diálogo constante com migrantes para verificar a evolução e positividade do ensino, e por fim, criem espaços curriculares que reconheçam saberes não hegemônicos.

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Publicado

26-09-2025