HISTÓRIA, DESENVOLVIMENTO E IMIGRAÇÃO NA MESORREGIÃO OESTE CATARINENSE

Autores

  • Eduarda Caroline Ceriolli Martinello Unochapecó
  • Junir Antônio Lutinski Unochapecó
  • Regina Yoshie Matsue Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Palavras-chave:

Colonização, Imigrante, Trabalho

Resumo

A mesorregião Oeste de Santa Catarina tem recebido importantes fluxos migratórios advindos de países do sul global, com destaque para os haitianos e venezuelanos. Ao remontar a história de desenvolvimento desta região verifica-se uma série de contradições que marcam a sua constituição social e econômica e que se relacionam com a imigração. O presente trabalho, objetiva apresentar as características relacionadas ao desenvolvimento, colonização e constituição da região Oeste de Santa Catarina, focando no desenvolvimento do complexo agroindustrial, importante fonte de incorporação de mão de obra imigrante na atualidade. Trata-se de um ensaio teórico, elaborado como parte de uma tese de doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Unochapecó, entre os meses de maio a julho de 2025. Embora, em diversas ocasiões a história do Oeste seja contada a partir da perspectiva europeizada colonizadora do século XX, compreendendo os imigrantes de segunda geração enquanto os responsáveis pelo progresso econômico e social da região, é importante frisar que, quando da chegada desses imigrantes, a região já era povoada por indígenas e “caboclos”. O Estado, por sua vez, dispunha na época de um projeto de “desenvolvimento” para a região, que propunha apoiar a vinda dos imigrantes europeus, tidos como aptos a “povoar”, “desenvolver” e “civilizar” o território. Por intermédio deste projeto o Estado concedeu terras as empresas colonizadoras, as quais procederam com a extração da mata, e a demarcação e venda dessas terras aos imigrantes europeus, a preços menores do valor de mercado. Em contrapartida, para a concretização deste projeto ocorreu a expulsão dos indígenas e “caboclos” os quais dispunham da posse dessas terras, promovendo a sua exclusão social, e o apagamento de sua história, habitus e cultura, expressando-se assim, como uma forma de colonialidade. Os imigrantes europeus desenvolveram uma relação com a terra diferente dos indígenas e caboclos. Os últimos compreendiam a terra enquanto uma posse coletiva, itinerante e de subsistência, e os colonos, por intermédio de suas pequenas propriedades rurais, praticavam uma agricultura voltada para a comercialização da produção de suínos, frango, leite e fumo. A comercialização destes produtos, de maneira especial dos suínos e frangos, deu início a uma relação econômica entre os produtores rurais e as empresas de abate e processamento desses produtos. Inicialmente, essa relação era tímida, uma vez que as indústrias se configuravam enquanto pequenos abatedouros. A partir de 1960 e 1970 o setor agroindustrial cresceu significativamente, dominando as relações comerciais com os colonos, especialmente, por meio da integração na produção. A crise dos suínos em 1970 impulsionou que as empresas frigoríficas de grande porte comprassem as de pequeno porte, gerando um oligopólio na indústria frigorífica. Atualmente, o complexo agroindustrial desta região é um dos maiores da América Latina, tornando o Brasil um importante agroexportador da proteína da carne. O crescimento desse setor, demandou por mais mão-de-obra, a qual em um primeiro momento, foi suprida pelos descentes dos colonos da região. Dado ao esgotamento desta reserva, uma nova carência de mão de obra emergiu, e foi atendida a partir da imigração do Sul global para o Brasil no século XXI. Primeiro foram os haitianos que ocuparam essas vagas de trabalho na região e mais recentemente os venezuelanos, indicando que, a atração desta população para a região está fortemente relacionada com o mercado de trabalho na indústria frigorífica. Desta forma, verifica-se que tanto os imigrantes internacionais acolhidos na região no século XX, como aqueles acolhidos recentemente, foram recebidos devido a sua utilidade laboral, enquanto uma mão de obra dirigida pelo Estado. Compreender estas contradições contribui para que se possa repensar a relação da sociedade de acolhimento para com os imigrantes internacionais, especialmente em relação aos atuais fluxos, os quais tendem a suscitar maior resistência por parte desta sociedade.  

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Publicado

26-09-2025