COM SAZÓN E RAÍZES
PRÁTICAS ALIMENTARES E IDENTIDADE CULTURAL DE IMIGRANTES EM CHAPECÓ
Palavras-chave:
Migrações Internacionais. Identidade. Interculturalidade.Resumo
RESUMO
A alimentação é um fenômeno profundamente simbólico, que ultrapassa sua função biológica e revela dimensões culturais, afetivas e identitárias (Fischler, 1995). Em contextos migratórios, ela adquire ainda maior relevância como meio de preservação de tradições e fortalecimento de vínculos com a cultura de origem (Montanari, 2024). Chapecó, localizada no oeste de Santa Catarina, destaca-se como um dos municípios brasileiros com maior presença de imigrantes, especialmente haitianos e venezuelanos (Prefeitura de Chapecó, 2025). Ainda assim, levanta-se a hipótese de que muitos desses sujeitos enfrentem dificuldades em manter vivas suas práticas culturais no cotidiano local. Nesses cenários, a alimentação costuma ser uma das poucas formas possíveis de expressar a identidade cultural, funcionando como ponte com a cultura de origem e como recurso de resistência simbólica no novo território (Castro et al., 2016; Appadurai, 1988). Diante disso, este trabalho tem como objetivo investigar de que maneira, no contexto específico do município de Chapecó, a alimentação pode contribuir para a preservação da identidade cultural de sujeitos em situação migratória. A pesquisa visa compreender se, e de que modo, os hábitos alimentares funcionam como forma de resistência simbólica, memória afetiva e afirmação cultural em situações de deslocamento. A análise é fundamentada na Teoria da Identidade Cultural de Stuart Hall, que compreende as identidades como construções instáveis, múltiplas e moldadas por contextos históricos e sociais. Hall propõe o conceito de "Crise de identidade", vivenciada de forma acentuada por sujeitos em processos migratórios. O trabalho também se apoia em autores como Fischler (1995), Mintz (1985), Montanari (2024) e Appadurai (1988), que discutem a alimentação como linguagem simbólica, meio de transmissão cultural e espaço de afeto e pertencimento. A noção de Interculturalidade e Adaptação Alimentar é trabalhada a partir de Canclini (1997) e Calvo (1982). Para tanto, trata-se de uma pesquisa qualitativa, fundamentada em revisão teórica e na realização de entrevistas semiestruturadas com imigrantes adultos residentes em Chapecó há pelo menos seis meses. A seleção será feita por amostragem por conveniência, com aplicação de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas serão transcritas e analisadas com base na técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2016), buscando identificar categorias temáticas relacionadas à alimentação, identidade e adaptação cultural. A coleta de dados está prevista para o segundo semestre de 2025. Como o estudo está em fase preparatória, ainda não há resultados empíricos. No entanto, espera-se que a pesquisa contribua para compreender se, e de que modo, a alimentação tem operado como instrumento de resistência simbólica e de construção de pertencimento entre os grupos migrantes em Chapecó.