PESQUISA, EXTENSÃO E FUNÇÃO SOCIAL
SOBRE PRESSUPOSTOS POLÍTICOS E METODOLÓGICOS
Resumo
Ao longo de seus dez anos de existência, o Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional (Migraidh/UFSM) vem se constituindo a partir de uma implicação (e responsabilização) ética frente aos sujeitos migrantes, sendo construído com e para os mesmos (Redin, Minchola, Almeida, 2020). O objetivo dessa apresentação, em específico, é discorrer sobre a indissociabilidade entre pesquisa e extensão, inerente à estrutura do projeto, bem como, os efeitos em termos de sua “função social”. Nossa leitura de mundo é decorrente do entendimento do fenômeno migratório como um fato social total (Sayad, 1998; 2000) e, concomitantemente, intersubjetivo (Redin, 2022). Isto é, ao mesmo tempo em que se estrutura pelo atravessamento de todas as esferas da vida social, recai sobre processos inerentes aos próprios sujeitos em deslocamento. É impossível para nós, assim, a produção de qualquer tipo de conhecimento sobre as migrações desimplicado de seus aspectos estruturais e subjetivos. Recaindo, desse modo, em um exercício constante de não fazer ciência somente sobre as migrações, mas com as migrações – expressas, para todos os fins, nos sujeitos migrantes. O esforço ético que baliza nossas práticas se refere, simultaneamente, às dinâmicas do reconhecimento (Honneth, 2009) e da geração de autonomia (Freire, 2021) – estando ambas umbilicalmente atreladas às vivências dos sujeitos migrantes. As pesquisas produzidas no âmbito do Migraidh, portanto, são tentativas de responder – mesmo que parcialmente – aos dilemas que emergem das práticas extensionistas. Sendo as mesmas, na prática, seu axioma. O resultado das pesquisas, por sua vez, passa a informar as práticas do projeto, atualizando o movimento cíclico de sua práxis. Problemas são identificados, estudos são realizados, propostas de resolução são construídas, análises são feitas sobre seus resultados e, a partir disso, novos problemas passam a ser abordados. De um lado, um esforço de pesquisa resultando em obras socialmente implicadas desde sua idealização. De outro, um esforço de transformação da realidade em função das constatações ora encontradas. Isso pode ser observado, por exemplo, na elaboração de um livro (Redin, Michola 2015) focado em direito comparado no contexto das deliberações da nova Lei de Migração (2017) que, inclusive, contou com nota técnica do Migraidh. Ou nas discussões da obra coletiva mais recente (Redin, 2020) voltada à análise teórica e discussão dos próprios pressupostos que sustentam nossas ações extensionistas, bem como, as atuais pesquisas encampadas pelas diferentes linhas que compõem o projeto. A ética que orienta nossas ações, assim, decorre de um entrelaçamento entre os processos de construção de saberes e suas respectivas implicações práticas – com vistas à criação de condições de autonomização dos próprios sujeitos implicados no processo migratório a partir de “processos comunicacionais de profunda interação entre academia, meio e sujeitos” (Redin, Minchola, Almeida, 2020, p. 20). A função social de nossas pesquisas, assim, é, para todos os fins, a própria práxis que a oriente. Isto é, o exercício constante de fazer pesquisa e extensão com os sujeitos migrantes a partir de suas próprias demandas.