A FEMINIZAÇÃO DAS MIGRAÇÕES NO CENÁRIO BRASILEIRO NA DÉCADA DE 2010-2022

  • Ana Paula Nezzi Unochapecó
  • Odisséia Aparecida Paludo Fontana Unochapecó
Palavras-chave: Migrações, Mulheres, Gênero

Resumo

 

As migrações sofreram impacto direto desde a aceleração da globalização nos anos 1980. Para o Sul global, isso significou um maior aumento na mobilidade humana e a alteração dos rostos de pessoas que migram. A presente pesquisa tem como objetivo analisar o aumento de participação feminina no contexto das migrações para o Brasil entre os anos de 2010 a 2022, utilizando o método dedutivo em sua modalidade qualitativa, com o uso de técnicas de pesquisa bibliográfica. A abordagem faz referência a esse período por se tratar de momento em que as mulheres conquistaram maior independência, com possibilidades de inserção e capacitação no mercado de trabalho em busca de autonomia, desafiando o papel de submissão até então imposto. Por anos as mulheres migravam como acompanhantes, desenvolvendo o papel de esposa ou filha; hoje, grande parte do movimento migratório se dá por mulheres que buscam melhores oportunidades de vida, especialmente com relação ao trabalho. O Sistema de Registro Nacional Migratório constatou que em 2021 as mulheres correspondiam a 44,8% do total de imigrantes no Brasil, demonstrando um salto de 12,2% em comparação ao início da década. Inicialmente a predominância de nacionalidade era boliviana, com alguns breves lampejos de cubanas a concentração paraguaia, sendo que as haitianas passaram a se consolidar como maior participação a partir de 2015. Esse cenário alterou-se, por fim, em 2018, quando as venezuelanas superaram esses números, o que se estende até a atualidade. A predominância dessa nacionalidade alterou também os locais de concentração de imigrantes femininas, anteriormente ocupado pelo estado do Mato Grosso do Sul, ultrapassado pelo estado de Roraima desde 2019. Como consequência das migrações femininas, ainda, há o aumento da migração de crianças e adolescentes. Em muitos dos casos as mulheres se tornaram a figura chefe da família, antes ocupado pelos maridos, pais e avôs, em razão da colocação no mercado de trabalho ou de possuírem filhos solteiras ou por deterem a responsabilidade após uma separação. Conclui-se que essas mudanças no cenário migratório se dão em razão de fatores históricos e políticos, de forças condicionadas pelos papéis de gênero, discriminação sexual e até mesmo pela própria globalização. Embora os números tenham aumentado, as mulheres ainda são grande alvo das mais diversas violências, inseguranças e discriminações, especialmente consideradas interseccionalidades de raça, orientação sexual e nacionalidade. Os estudos com relação às mulheres imigrantes são necessários para que se possa compreender essa movimentação, buscando ampliar o acesso aos direitos básicos e a diminuição de violências ainda hoje enfrentadas.

Biografia do Autor

Ana Paula Nezzi, Unochapecó

Mestranda no PPGD em Direito - Unochapecó

Odisséia Aparecida Paludo Fontana, Unochapecó

Professora permanente do Programa de Mestrado Acadêmico em Direito - Unochapecó na Linha de Pesquisa: Direito, Cidadania e Atores Internacionais.

Publicado
14-09-2023