AMBULATÓRIOS DE ACOLHIMENTO EM SAÚDE DO IMIGRANTE

RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Juliane Zimmer Pettenon UFFS
  • Heloisa Sena Souza
Palavras-chave: Migração humana, Saúde pública, Vulnerabilidade

Resumo

O Brasil recebeu, no período de 2011 a 2018, cerca de 774,2 mil indivíduos classificados como imigrantes ou refugiados. A cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, é um dos destinos escolhidos por imigrantes oriundos da Venezuela, representando cerca de 60% dos imigrantes residentes no município, além de países como Haiti e Senegal. Por este motivo, a necessidade de assistência de saúde voltada especificamente para a população imigrante é de grande relevância, uma vez que este público enfrenta desafios particulares no acesso aos serviços de saúde devido a barreiras linguísticas, culturais, religiosas e socioeconômicas. Assim sendo, é crucial que sejam implementadas políticas e programas que visem garantir o acesso igualitário e integral aos serviços de saúde para esta população, bem como, adaptar os serviços já existentes para contemplar as condições de vulnerabilidade em que muitos imigrantes se encontram. Diante deste cenário, o Curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) institucionalizou, em agosto de 2018, um projeto de extensão intitulado “Ambulatórios de Acolhimento em Saúde do Imigrante”, que tem por objetivo direcionar e disponibilizar atendimento médico aos imigrantes moradores de Passo Fundo. O Ambulatório, vinculado ao Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo (HSVP) passou a ter seu funcionamento por meio de agendamentos de consultas, as quais são realizadas mensalmente nos últimos sábados de cada mês. Os atendimentos são conduzidos pelos acadêmicos da universidade, com o apoio dos médicos docentes e visam atender demandas que perpassam diversas áreas da Clínica Médica, incluindo encaminhamentos às especialidades, quando necessário. Do ponto de vista do acadêmico de Medicina da UFFS, as atividades desempenhadas no Ambulatório de Acolhimento em Saúde do Imigrante compõem um importante cenário de prática e aprendizagem, isso porque oportuniza aos discentes a consolidação prática dos conceitos clínicos aprendidos durante a formação médica, além de proporcionar o desenvolvimento de habilidades como adaptação em comunicação, empatia, compreensão das diversidades culturais, entre outras.  O Ambulatório iniciou os atendimentos em 12 de dezembro de 2018 e estima-se que cerca de 166 pessoas já tenham sido atendidas até julho de 2023. Nesse sentido, entende-se que o projeto vem alcançando seu objetivo primordial, a garantia de acesso ao atendimento clínico e acolhimento psicossocial aos grupos imigrantes residentes da cidade de Passo Fundo, por meio dos princípios preconizados pelo Sistema Único de Saúde: acesso universal, integral e gratuito. Ademais, por ser um ambiente com grande diversidade étnica, socioeconômica e cultural, evidenciando as dificuldades de comunicação e preconceitos, o ambulatório torna-se uma experiência enriquecedora e desafiadora, pois oferece cenários de prática em saúde diferentes dos encontrados em ambulatórios comuns. Por fim, apesar dos avanços ao longo dos anos de atuação do Ambulatório, é importante ressaltar a necessidade de manutenção do projeto, assim como seu aperfeiçoamento. De modo que seja ampliada a abrangência dos atendimentos, a fim de atingir a totalidade dos grupos imigrantes do município. Ainda, dentre os principais focos de aperfeiçoamento, destaca-se a superação das barreiras linguísticas e de comunicação, para que haja o fortalecimento do vínculo médico-paciente e, consequentemente, uma melhor adesão aos tratamentos propostos e acompanhamento ambulatorial.

Publicado
14-09-2023