Paisagem e Fronteira:
Racionalidades da guerra e da paz
Resumo
A presente pesquisa parte da afirmação do geógrafo Yves Lacoste, quando disse que “A Geografia serve em primeiro lugar para fazer a guerra”. A partir dessa afirmação, a contextualização desta pesquisa se alia aos estudos sobre a fronteira, esta que simboliza a delimitação territorial e a ideia de separação da Natureza e das sociedades, configurando na contemporaneidade os Estados-Nação, e uma suposta ideia de estabilidade das relações espaciais. Nesse sentido, como contraposição da fronteira, apresenta-se uma interpretação paisagística destes espaços que foram resultado de conflitos e guerras, alicerçada em uma compreensão com base na dimensão da existência que atravessa a fronteira, do tempo presente e da projeção de continuidades sociais e naturais. Propomos uma geografia que sirva à paz via paisagem, pois, é partir dela, a paisagem, que tomamos consciência do espaço que ocupamos no mundo, nas tentativas humanas de obter algum domínio, falho, sobre a natureza e na dominação de uns em detrimento de outros, gerando as mais diversas formas de fragmentações sociais e produções de desigualdades. Desta forma, este trabalho tem como objetivo analisar como a geografia serviu de instrumento de conhecimento territorial na anulação simbólica e material do outro, portanto, a serviço de um pensamento e prática da guerra. Posto isso, propor uma geografia que insere o ser humano no espaço a partir da paisagem, como uma possibilidade de criação de ajuizamentos éticos e estéticos, que vislumbrem um fazer geográfico que valoriza a existência humana. A ideia de paz, em sua construção prática no decorrer dos tratados e alianças entre os Estados-Nação, a exemplo da Liga das Nações, remonta um cenário europeu de pós guerra, da paz tratada enquanto uma ferramenta de dominação, de divisão territorial de outros continentes, e de alianças de cooperação para reconstrução da destruição causada durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, a ideia da paz se coloca no cenário da geopolítica, em acordos políticos de ordem político-administrativa, que por vezes partem de disputas onde a sociedade civil não tem uma participação efetiva, se não nula. Portanto, vista dessa forma, ou seja, à paz enquanto uma trégua da guerra, não como um princípio do bem viver a todos, merece uma análise crítica.A metodologia desta pesquisa se constrói enquanto uma análise bibliográfica de teor qualitativo. Abordando interpretações e dinâmicas de poder no espaço geográfico a partir da guerra e da paz. A metodologia se fundamenta na análise de três eixos de discussão: A Natureza; A Sociedade; A Guerra, como chaves introdutórias na compreensão de como a sociedade percebe e interpreta a Natureza, a si mesma, e por fim gera a guerra como uma forma de retorno à Natureza.