O colonialismo português testemunhado: memória e trauma
Keywords:
colonialidade, Ibero-Améfrica, literatura, testemunho, traumaAbstract
A pesquisa que apresento no âmbito do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim tem lastro nos cenários enunciados por Conceição Evaristo, Isabela Figueiredo e Grada Kilomba diante de uma máscara: a do silenciamento pelo colonialismo racista e patriarcal. Abarcamos, nesse caso, as dificuldades de se expressar no âmbito da aplicação de políticas sádicas de conquista e dominação e sistemas brutais de cerceamento das que foram produzidas como "Outras". Deparo-me, por meio das colocações de Grada, com o medo de que o colonizador tenha que escutar aquilo que é "mantido em silêncio como segredo". Há, nesse raciocínio, um investimento na negação em se reconhecer as violências da história – onde a busca pela restrição da fala dos subalternizados aparece como método para não se expor a quaisquer discursos que afrontem a lógica colonial. Com isso em mente, identifico um ordenamento por meio do qual as percepções tornadas públicas por Evaristo, Figueiredo e Kilomba têm sido negadas e reprimidas. Os "segredos" aqui abrangem aspectos como a barbárie da ditadura civil-militar no Brasil, o fascismo do Estado Novo português sobre o mundo colonial e a constante recriação do racismo na Europa. Indo além, a verdade ocultada contempla a existência dos traumas das mulheres e da negritude diante desses regimes e a articulação deles a um passado mais amplo que se manifesta como reminiscência no tempo presente: a colonialidade no Império Português e os seus distintos desdobramentos no que chamo de Ibero-Améfrica. Assim, sustento que, nesta investigação, pretendo trabalhar com uma ideia que já não pode mais ser negligenciada: a ferida colonial está aberta.