RELATO DE EXPERIÊNCIA: MEDICALIZAÇÃO DA SOCIEDADE OCIDENTAL E CONTEMPORÂNEA
Resumo
A medicalização social refere-se à atribuição de questões não médicas à biomedicina e incorporação dos conceitos biomédicos ao contexto sociocultural, científico e político. Ela está relacionada com formas legitimadas de cuidado e tratamento na modernidade, as quais passaram a ser ditadas pelo modelo alopático. O presente trabalho consiste em um relato de experiência oriundo do Componente Curricular Optativo, do Curso de Graduação em Medicina, Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas e Complementares (RM-PIC) na Atenção Primária em Saúde/SUS, que tem como finalidade a introdução dos acadêmicos nas diferentes formas de cuidado à saúde e de cura, assim como a valorização de medicinas não orientadas pela racionalidade médica ocidental contemporânea. Para isso o componente se apropria de metodologias ativas, incluindo rodas de conversa e imersões em serviços que oferecem essas práticas. A medicalização da sociedade ocidental contemporânea foi uma das temáticas elencadas para discussão entre acadêmicos e docentes durante uma roda de conversa, após estudo prévio para apropriação de conteúdo e elaboração de reflexões sobre o assunto. O processo de medicalização apresenta-se enraizado na sociedade contemporânea e é caracterizado por transformar situações normais da existência humana em problemas a serem abordados por profissionais da saúde. Isso implica no aumento da submissão dos indivíduos a procedimentos diagnósticos e terapêuticos, frequentemente desnecessários e potencialmente danosos. Além disso, acredita-se que a medicalização é responsável por interferir na independência e na concepção das pessoas sobre sua própria saúde. Simultaneamente, tem ocorrido uma valorização das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) e um aumento do interesse pela inserção de suas técnicas preventivas e terapêuticas na atenção primária, as quais, diferentemente do modelo biomédico, não carecem de tecnologias duras para serem efetivadas. No Brasil, a incorporação das PICS no Sistema Único de Saúde (SUS) está sendo impulsionada pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), do Ministério da Saúde (MS). Fica evidente, portanto, que a medicalização consiste em um fenômeno social complexo, resultante de uma construção histórica que estabeleceu as ciências biomédicas como determinantes da concepção de saúde-doença na sociedade ocidental e contemporânea. Esse processo acaba por transformar os indivíduos em consumidores, fazendo com que procurem cada vez mais medicar-se de forma irracional, visando uma melhoria em sua qualidade de vida. As PICS têm emergido como estratégia para moderar essa situação, tendo como base a preservação da saúde, precedendo a necessidade da aplicação de recursos terapêuticos para tratamento de doenças.
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