A CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES RACIAIS E OS REFLEXOS NA IMIGRAÇÃO DE HAITIANOS (AS) EM CHAPECÓ
Palavras-chave:
Branquitude, Poder, Racismo, Chapecó, RaçaResumo
A construção desta comunicação está associada a uma parte da monografia do curso de licenciatura em Ciências sociais intitulada: “Branquitude e poder nas relações entre moradores locais e imigrantes haitianos: Falando de raça no Oeste Catarinense”. Em que trata das relações inter-raciais de Chapecó com a vinda dos imigrantes haitianos (as). Nessa perspectiva a pesquisa possui a preocupação de compreender as relações raciais que ocorreram e que estão ocorrendo nessa região. Assim a pesquisa é baseada na metodologia qualitativa, com entrevistas e grupos focais com brasileiros (as) e haitianos (as), além das leituras e pesquisas documentais. Na qual identificou-se que os brancos tinham o poder de barrar o acesso dos não brancos, a terra, e há outras instituições como a igreja. E a exclusão funcionava de forma violenta, seja por força, na qual, eram apoiados pelas companhias colonizadoras de expulsar ou de forma psicológica constrangendo por suas roupas ou seu modo de vida, quando não eram assassinados. Essa relação de distanciamento e diferenciação foi interiorizada e refletida nos dados do IBGE de 2010 em que 76,68% da população é branca, mesmo com os indígenas e caboclos que vivem na região, não houve uma miscigenação significativa. Além da predominância branca a cidade é identificada na branquitude, com a forma de poder simbólico e econômico usufruída por brancos e renegada aos não brancos. A chegada dos haitianos (as) causa um estranhamento devido a cor, já que a cidade é predominantemente branca. Na qual, fica evidente as relações de racismo expressa na fala dos haitianos em que um deles é xingado de “Macaco, haitiano de merda, volta pro teu país que aqui ninguém gosta de preto”. E outros entrevistados relatam que ninguém senta ao lado na utilização do transporte público, mesmo que esteja lotado. Também, a dificuldade de conseguir um trabalho com a justificativa de serem imigrantes. Existem também as sutilezas das relações entre haitianos e brasileiros que não estabelecem relação de conversa para além das necessárias para a efetivação das funções laborais. Em relação as entrevistas com os brasileiros afirmam que a relação dos moradores locais com os imigrantes é bastante hostil, na qual é comum ouvir dos moradores que os “haitianos vêm roubar nossos empregos”. Além de narrar episódios de que os vendedores brasileiros não queriam atender os haitianos com a justificativa que “os haitianos nunca compravam”. Os relatos sinalizam o poder desigual, em que um grupo barra o acesso do outro até mesmo na socialização através da comunicação. Assim sendo, a partir desse estudo é possível concluir que a construção das relações raciais em Chapecó foi e continua sendo desigual, baseadas no racismo e na branquitude, que se complementam, na medida, em que, inferiorizam e barram os não brancos, ao mesmo tempo, em que promove e reforça a superioridade branca.
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