UM DIZER SALVAJE: DA FRONTEIRA
Resumo
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa desenvolvida a partir do livro “Dá gusto andar desnudo por estas selvas – Sonetos Salvajes”, de Douglas Diegues. Essa obra apresenta trinta sonetos com uma mesma estrutura: três estrofes de quatro versos seguidas de um dístico, modelo inglês/shakespeariano, conjunto de sonetos que configura um universo no qual vários elementos são colocados em jogo: escritos em "portunhol selvagem", sem regras sintáticas e numa imprevisibilidade de uso de palavras, a voz do sujeito dos sonetos desliza sem qualquer resistência pelo português, pelo espanhol, pelo guarani e pelo inglês, numa mistura de palavras em todas essas línguas. Transforma, dessa forma, em língua poética uma "não-língua" ou também chamada língua de mercadoria. Encontramos nessa obra, uma efusão de associações, enumerações, bem como um jeito de lidar com uma vida que se encontra em “ruínas”. O que se delineou durante a pesquisa é que o efeito da poesia de Diegues está no modo de dizer dos sonetos: um “dizer salvaje da fronteira” que coloca em jogo a própria linguagem e não está em qualquer lugar, tampouco faz referência a uma fronteira geográfica, mas às mais variadas fronteiras da vida humana. Quanto ao percurso metodológico, partimos de um poema do referido livro, buscando compreender a noção de fronteira, de sujeito e da própria poesia envolvida na construção desse dizer dos sonetos, mobilizando não só esse poema como também outros da referida obra, do blog do autor e de suas demais produções. Na sequência, observamos os sonetos no contexto de sua produção, para, a seguir, investigar a historicidade deste “dizer salvaje da fronteira” a fim de compreender algumas faces da poesia e do próprio literário. Acerca da historicidade desse “dizer”, podemos fazer alusão a poetas como: Dante Alighieri, o qual escreve em língua vernacular em um período em que tudo era escrito em latim; Sousândrade que, em meio ao português, escreve palavras em inglês, neologismos e palavras indígenas; Juó Bananére com seu "dialeto macarrônico"; Mário de Andrade e a ideia de uma língua brasileira, entre outros. Também é possível trazer à luz a Poesia Concreta e a Poesia Marginal, bem como teóricos que analisaram esse “dizer”: Deleuze em relação à obra de Kafka, denominando a literatura deste de “literatura menor” e Agamben que trata da “inoperatividade” da língua. O percurso traçado aponta para um “dizer salvaje da fronteira” proferido por um sujeito nascido do encontro entre os seres viventes e os dispositivos, noções essas tratadas por Agamben.
Palavras-chave: poesia; literatura; portunhol selvagem.
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