INTOXICAÇÃO ACIDENTAL POR ORGANOFOSFORADO EM GATO DOMÉSTICO (FELIS CATUS) – RELATO DE CASO

Autores

  • Evandro de Oliveira Rodrigues Universidade Federal da Fronteira Sul/Realeza
  • Bruna Kaczuk Refosco Universidade Federal da Fronteira Sul/Realeza
  • Bruna Naiara Moresco Universidade Federal da Fronteira Sul/Realeza
  • Emanuel Caon Universidade Federal da Fronteira Sul/Realeza
  • Julia Lermen Birck Universidade Federal da Fronteira Sul/Realeza
  • Gabrielle Coelho Freitas Universidade Federal da Fronteira Sul/Realeza
  • Tatiana Champion Universidade Federal da Fronteira Sul/Realeza

Palavras-chave:

Acetilcolinesterase. Atropina. Acetilcolina. Inseticidas. Ach.

Resumo

A utilização de larvicidas e inseticidas ainda é uma prática comum na prevenção e tratamento de bernes e miíases de cães e gatos. Concomitante a isso, um grande número de intoxicações oriundas de doses elevadas e do uso indiscriminado e sem orientação profissional, faz com o que o atendimento toxicológico emergencial seja uma realidade presente nas clínicas e hospitais veterinários. Vários desses pesticidas têm em sua composição elementos como carbamatos, organoclorados e organofosforados, substâncias extremamente tóxicas quando utilizadas indevidamente. Este trabalho tem como objetivo relatar o caso de um felino, fêmea, 2,5 kg, um ano de idade, sem raça definida, o qual foi encaminhado para atendimento médico-veterinário na Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária da UFFS. Na anamnese, o tutor relatou que o animal foi tratado com um spray à base de clorpirifós e diclorvós por ter sido atacado por cães e apresentado vários cortes. Os princípios do referido spray são organofosforados utilizados como inseticidas e prevenção ao aparecimento de bernes e miíases. Ao exame clínico, o animal apresentou escoriações e laceração do abdômen no antímero direito, além de sinais clínicos característicos da intoxicação por organofosforados, como fasciculações e tremores musculares, debilidade, paresia, dispneia, sialorreia, náuseas, vômitos, diarreia, ruídos respiratórios, inquietação e convulsões. Diante desse quadro clínico e do diagnóstico da intoxicação, foi instituído como tratamento fluidoterapia com solução de Ringer com Lactato (60mL/kg para correção da manutenção hídrica diária e 60mL/kg para reposição hídrica); sulfato de atropina (0,5mg/kg), administrado ¼ do volume via intravenosa e ¾ via intramuscular para o tratamento específico da intoxicação; diazepam (2mg/kg via intravenosa) para o tratamento das convulsões e furosemida (2mg/kg), com o objetivo de reduzir o edema pulmonar, aumentar a diurese e auxiliar na eliminação do componente tóxico. Associado à terapêutica farmacológica, foram implementadas medidas auxiliares como lavagem do ferimento com água corrente para retirada do spray remanescente na ferida, pele e pelos, oxigenoterapia visando eliminar o quadro dispneico e aumentar a SaO2, aquecimento do paciente para estabilização da temperatura corporal e monitoração constante dos parâmetros fisiológicos. A convulsão cessou após alguns minutos do tratamento, e decorrido algumas horas, o paciente apresentou melhora significativa, cessando o quadro de tremores musculares, convulsões, sialorréia e ruídos respiratórios. O paciente recebeu alta no final da tarde, recomendando-se retorno na manhã seguinte para observação e nova avaliação do quadro clínico. Os organofosforados são agentes anticolinesterásicos de longa duração, pois inibem a acetilcolinesterase de modo irreversível, uma vez que formam complexos estáveis quando na fosforilação com um grupo hidroxila da serina presente no sítio esterásico da enzima, aumentando a concentração de acetilcolina (Ach) nas junções sinápticas. Nessas intoxicações a atropina é utilizada como agente bloqueador muscarínico, pois atua competitivamente bloqueando as ações da Ach nos receptores muscarínicos centrais e periféricos. O restante da terapia auxiliar visou a melhora e estabilização dos sinais clínicos. Conclui-se que a adoção do tratamento farmacológico específico com atropina, bem como o protocolo terapêutico auxiliar implementado teve efeito significativo na evolução do quadro do paciente, podendo ser recomendados para o tratamento de intoxicações por organofosforados.

Referências

ANDRADE, S. F. Manual de terapêutica veterinária. 3. ed. São Paulo, SP: Roca, 2008.

Henrique F. V.; CARNEIRO, R. S. Síndrome neuropática motora por inibidor de acetilcolinesterase em felinos: relato de quatro casos. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação; 2014; V. 12. p.190-194.

LIMA, F. J. C. et al. INSETICIDA ORGANOFOSFORADO METAMIDOFÓS: ASPECTOS TOXICOLÓGICOS E ANALÍTICOS. Pesticidas: R.Ecotocicol. e Meio Ambiente. Curitiba, v.11, p.17-34, jan./dez. 2001.

MEDEIROS, R. J. et al. Casos de intoxicações exógenas em cães e gatos atendidos na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense durante o período de 2002 a 2008. Revista online Ciência Rural, Santa Maria, RS: 2009.

Oliveira, M. L. F.; Buriola, A. A. Gravidade das intoxicações por

inseticidas inibidores das colinesterases no noroeste do estado

do Paraná, Brasil. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, RS. 2009; v. 30. p. 648-655.

PAPICH, M. G. Manual Saunders terapêutico veterinário. 2. ed. São Paulo, SP: MedVet, 2009.

SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L.; BERNARDI, M. M.; Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2011.

Downloads

Publicado

23-01-2017

Edição

Seção

Campus Realeza - Projetos de Extensão e Cultura