ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DE UMA UNIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO DA PRODUÇÃO DE SUBSISTÊNCIA NO MUNICÍPIO DE CERRO GRANDE - RS
Resumo
A modernização experimentada pelos sistemas de produção agrícola nas últimas duas décadas promoveu a especialização das Unidades de Produção Agrícola (UPA) familiar. Neste processo, muitas famílias baniram atividades de subsistência, muitas vezes associadas a ineficiência econômica e ao atraso tecnológico. No entanto, muitos trabalhos de pesquisa e extensão vêm demonstrando o contrário. Este estudo tem como objetivo realizar a análise e diagnóstico da atividade de subsistência em uma UPA familiar. A pesquisa foi realizada em uma UPA familiar localizada no município de Cerro Grande, região Norte do estado do Rio Grande do Sul. A seleção da UPA passou por consulta com agentes de assistência técnica do município. Os critérios principais foram: i) representatividade das atividades desenvolvidas na região e ii) acessibilidade para levantamento de dados. Os dados foram coletados com o auxílio de questionário semiestruturado e visitas na UPA. Foram levantadas informações sobre as atividades desenvolvidas (diversidade produtiva), demanda de mão de obra, quantidade produzida e consumo familiar para o período de 2017/2 e 2018/1. Para o cálculo da renda bruta de subsistência, fez-se uma pesquisa mercadológica calculando-se o quanto a família gastaria se deixasse de produzir na UPA e adquirisse os produtos no comércio da cidade. Por fim, fez-se uma conversão de todos os valores consumidos para quilogramas, tendo uma relação da quantidade consumida de cada produto, e a economia obtida com o mesmo. A renda bruta anual é de R$ 15.290,80, o que corresponde a uma renda mensal de R$ 1.274,23 (ou um salário-mínimo). 77% da renda é composta pela produção e consumo de carne bovina, suína e aves, leite, mandioca, açúcar mascavo, queijo, alface, lenha, mel, laranja e peixe. Ao todo são 40 produtos de subsistência, divididos em beneficiados (12), hortaliças (10), produtos de origem animal (8), frutas (6), grãos (3) e lenha. A atividade também se mostrou relevante do ponto de vista social, visto que valoriza o conhecimento passado de pais para filhos e incentiva o trabalho em grupo. Estas atividades são mantidas principalmente pelo trabalho feminino, o que destaca importâncias da permanência das mulheres no campo. Outro aspecto positivo da produção de subsistência é a demanda relativamente baixa de mão de obra, a média mensal é de 78 horas, o que corresponde a 3,0 horas diárias ou 0,375 dias de trabalho homem (DTHs). Adicionalmente, a subsistência não impede a família de desfrutar folgas e feriados, e escolher o melhor momento para realização das atividades. Conclui-se que a atividade de subsistência pode ser uma alternativa à geração de renda na agricultura familiar, pois além de diminuir gastos com a aquisição de produtos alimentícios no comércio local, promove segurança e soberania alimentar, a partir do consumo de uma grande variedade de produtos de alta qualidade e comumente produzidos em sistema agroecológico, além disso garante o abastecimento da família ao longo do ano e otimiza o uso dos fatores de produção pelo aproveitamento dos resíduos de outras atividades.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Submeto o trabalho apresentado como texto original à Comissão Editorial do XIII SEPE e concordo que os direitos autorais, a ele referente, se torne propriedade do Anais do XIII SEPE da UFFS.