O FRADIQUE MENDES E A CRÍTICA AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA
Resumo
Este trabalho resume-se na análise de uma das cartas do dândi Carlos Fradique Mendes, personagem intelectual e escritor de epístolas que criticam diversos aspectos da sociedade lusitana do final do século XIX e que ganhou vida na obra do escritor português Eça de Queirós em A Correspondência de Fradique Mendes. A carta destinada ao senhor Bento de S. foi a missiva escolhida e está voltada para uma situação em que esse conhecido de Fradique tenta fundar um jornal. Dessa tentativa, Fradique Mendes se mostra demasiadamente contrário em razão de diversas anomalias que envolvem as maneiras como os meios de comunicação de massa atuam na sociedade. Nesse sentido, esta análise indagou se as críticas de Fradique, nessa narrativa, assemelham-se ou encontram alguma conexão com a crítica contemporânea voltada para a indústria cultural. Para tanto, abordou-se uma breve apresentação da personagem eciana com uma contextualização e interpretação da carta a Bento de S., buscando, na sequência, tecer uma reflexão sobre o intuito dessa missiva paralelamente com a reflexão sobre A formação da sociedade pela indústria cultural, desenvolvida pelo autor Wolfgang Leo Maar. Como resultado, observou-se que a crítica presente na literatura de Eça de Queirós tem relação com o papel da mídia na formação do sujeito: O narrador do romance que se apresenta como aventureiro, viajante, interessado nas causas sociais e, principalmente, na decadência da sociedade lusitana causada pelas constantes transformações sociais, políticas e econômicas, não foi um escritor, porque não queria deixar alguma obra sua no mundo, porém escrevia cartas, o que deu forma a um conjunto de epístolas endereçadas a pessoas com quem mantinha ou manteve alguma forma de convívio. Uma dessas cartas é a endereçada ao senhor Bento de S. Nela, Fradique revela sua descrença exacerbada ao destinatário da carta que pretende fazer um jornal, o que é considerado pelo narrador como uma ideia “daninha e execrável”, ou seja, em vez de apoiar a iniciativa como sendo um veículo útil da modernização de Portugal, afirma absolutamente o contrário, algo estritamente relacionado com a teoria de Leo Maar, pois Fradique Mendes acredita que um jornal como meio de comunicação de massa diária torna-se o lugar de notícias ligeiras e de juízos apressados, uma vez que coexiste no dia a dia das pessoas que passam a receber a informação que fora produzida por ele. Portanto, vê-se que a mídia não possui interesse em produzir e fomentar a criticidade dos sujeitos por meio da imparcialidade, aspecto tão importante para o jornalismo. Não se pode generalizar, é claro. Todavia, é necessário refletir sobre os desafios atuais para a formação humana e, nesse ponto, diante da força com que os meios de comunicação de massa interferem na vida e na formação das pessoas, é impreterível que se valorize a contrariedade que Fradique manifesta sobre as diversas anomalias que envolvem as maneiras como os meios de comunicação de massa atuam na sociedade e que também se reflita sobre quais estratégias podem ser lançadas para se evitar a semiformação e os juízos ligeiros.
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