COSTURANDO (RE)CONSTRUÇÕES SOBRE DIVERSIDADE, GÊNERO E IDENTIDADES: A CONFECÇÃO DE BONECOS(AS) NO VER-SUS OESTE CATARINENSE
Palavras-chave:
Gênero e Saúde, Violência baseada em gênero, Problemas Sociais, Sexismo, Formação profissional em saúde.Resumo
Nos itinerários formativos em saúde, aspectos como as violências, as relações (assimétricas) de gênero e a diversidade (em todas as dimensões do humano) possuem, ainda, pouco ou nenhum espaço como temas essenciais para formação ética, humanística e cidadã dos(as) futuros(as) profissionais de saúde, sobretudo pelos tabus e mitos arraigados histórica e sócio culturalmente. Tornam-se imperativas, assim, estratégias para problematização destes temas aliando a academia à indissociável vida em sociedade “lá fora”. Este trabalho tem como objetivo geral relatar uma experiência de estratégia problematizadora, denominada confecção de bonecos(as), para discutir os temas acima na perspectiva de gênero, proporcionada no âmbito do Projeto de Extensão “Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde” (VER-SUS Oeste Catarinense). A quinta edição desse projeto teve como tema geral “Política, Cidadania e Cultura: respeito às diversidades”, e se propôs, através da organização de espaços interdisciplinares de discussão e do desenvolvimento de atividades de imersão vivencial, abordar temas sociais nevrálgicos oferecendo oportunidade para discussões acadêmicas em diferentes áreas do conhecimento. Dentre as atividades realizadas na edição, destaca-se essa atividade voltada à confecção de bonecos, que tem como objetivo discutir as identidades de gênero a partir do lúdico, instigando os viventes do VER-SUS a problematizarem acerca dos papéis sociais de homem e mulher e a forma como esses são estereotipados em bonecos(as). Na proposta, cada vivente confecciona seu(suas) próprio(a) boneco(a), em todas as fases do processo, desde a seleção do material necessário, passando pelo corte, costura, preenchimento, confecção da roupa até a definição das características, história (fictícia ou real) até a identificação e apresentação do mesmo. São convidados(as), ainda, a compararem suas produções com bonecos(as) comerciais tradicionalmente vendidos na infância dos(as) presentes. A atividade é marcada pela desconstrução de estigmas de gênero rotulados em “simples bonecos(as)”, exercício do trabalho em equipe, determinação e planejamento, além da reflexão no momento em que cada vivente apresenta seu trabalho e as histórias, muitas vezes suas próprias histórias de vida, de seus pais ou até mesmo de pessoas que conheceram nas vivências realizadas durante o projeto. Referências à pluralidade de expressões e de identidades de gênero são representados na construção e apresentação dos(as) bonecos(as), a exemplo de “o meu é um boneco, mas ele gosta de usar saia”, “a minha é uma boneca mas ela tem genitália masculina”, e emergem inquietações como “porque não existem bonecos(as) com alguma necessidade especial/deficiência física, já que não é incomum entre nós?” ou “os(as) bonecos(as) representam a maioria da população brasileira, ou um padrão estético?”. Ao olharem sobre seu próprio papel na sociedade e como estão inseridos em regras sociais impostas e perpetuadas por eles(as) próprios(as) (todos/as nós), os(as) acadêmicos(as) percebem-se não só como vítimas, mas também como potenciais autores de inúmeras violências, veladas ou não, contra si, outrem e/ou os(as) usuários(as) do SUS. Avalia-se que estratégias como essa deveriam perpassar todo itinerário formativo em saúde, utilizando preferencialmente metodologias ativas visando enfrentar estereótipos e preconceitos que podem culminar em práticas de saúde discriminatórias e violentas.
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