CORPO SER E CORPO INSTITUCIONAL
RELATO DE ESTÁGIO NO SETOR DE ASSUNTOS ESTUDANTIS, CAMPUS CHAPECÓ
Resumo
O presente resumo tem como objetivo apresentar, de maneira sintetizada, o conteúdo do relatório de estágio não obrigatório realizado no Setor de Assuntos Estudantis (SAE) - campus Chapecó, que relata de maneira reflexiva sobre um ano de experiências que tive, atreladas ao meu desenvolvimento acadêmico, abordando questões que envolvem a permanência estudantil no que toca a relação entre o ser sujeito/estudante e o meio institucional, a partir dos atravessamentos sociais e subjetivos que implicam no processo de apropriação ou distanciamento da linguagem acadêmica regulamentar que regem a vida acadêmica, sobretudo dos estudantes vulneráveis. Como estudante de Pedagogia, disposta a compreender a educação em sua amplitude: considerando os aspectos históricos, políticos, sociais e culturais que a compõem, tenho tido a oportunidade de compreender melhor o funcionamento regulamentar de uma instituição de ensino superior e como este funcionamento implica direta ou indiretamente na formação dos sujeitos e profissionais, não só por meio do percurso curricular, mas na complexidade de experiências existentes no ambiente acadêmico. A vivência no SAE como estudante e como estagiária, tem me possibilitado notar relações antes imperceptíveis ou pouco compreensíveis, como algumas relações de poder, a institucionalização dos sujeitos, diferentes formas de articulação de ideias, posicionamentos, necessidades sociais, econômicas e psicológicas que perpassam a vida acadêmica, e que certamente perpassam a vida escolar na educação básica. Tenho tido a oportunidade de entender melhor a linguagem institucional, ou seja: como a Universidade se comunica oficialmente através de editais e normas e como esta linguagem é composta por desafios e conflitos, sendo uma linguagem pouco dialogada com os estudantes, no sentido em que chega até eles (nós), quase sempre como decisões, critérios e prescrições já definidos; o que tem sua funcionalidade a partir da necessidade de padronizar a comunicação, mas que implica em problemas passíveis de investigação científica acerca do agenciamento nas formações humanas e nas relações que estabelecem dos indivíduos com este espaço, considerando o fato de ser uma linguagem não habitual. Isto decorre na demanda pedagógica do setor por estabelecer formas mais acessíveis de comunicação com os estudantes, por conta da dificuldade de muitos estudantes, sobretudo estudantes que compõem uma minoria social, entenderem ou se aterem aos editais. Uma reflexão importante acerca deste aspecto é o entendimento de que por mais rígido que sejam os procedimentos acadêmicos, quer sejam nos processos avaliativos, quer sejam nos processos de seleção para o recebimento dos auxílios socioeconômicos ou na institucionalização de projetos, os mecanismos legais e operacionais são regidos por pessoas, sujeitos que empregam seus posicionamentos político, ético e ideológico em suas ações e escolhas. Escolhas estas que impactam a vida de indivíduos e coletivos presentes na Universidade. Isto aponta uma demanda por humanização nas relações estabelecidas entre a instituição e os seres sociais que a compõem. Neste sentido se configura a importância do SAE, sendo o espaço onde os estudantes recorrem na busca de acesso a seus direitos, conquistados por um longo processo de luta popular, para garantia de condições de permanência. Vejo, portanto, como um privilégio estar estagiando em um ambiente em que se preza a democracia e o diálogo como elemento constitutivo das ações e direcionamento de atividades que têm como objetivo acolher socialmente e psicologicamente os estudantes. Pretende-se, portanto, compartilhar estas reflexões para que de alguma maneira, possam contribuir com o desenvolvimento de políticas públicas que visem a compreensão e o acolhimento real aos estudantes em suas diferentes necessidades, uma vez que a permanência só pode ser garantida quando os acadêmicos forem vistos e acolhidos em suas complexidades
e diferenças pela instituição, que deve também se abrir para as diferentes linguagens existentes.