ASPECTOS FORMATIVOS À ALFABETIZAÇÃO NAS RODAS DE CONVERSAS DO ÚLTIMO ANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

  • Maiara Vieira Da Silva unoesc
  • Marineiva Moro Campos de Oliveira unoesc

Resumo

Neste trabalho, apresentamos um estudo correlato acerca das rodas de conversa e dos aspectos alfabetizadores no último ano da Educação Infantil. Focalizamos nesta etapa de educação, pois corresponde a um período de intenso desenvolvimento da linguagem da criança e da aquisição de conhecimentos, o qual é momento privilegiado à promoção de práticas linguísticas, como condição social para humanização.

A Educação Infantil enquanto nível de educação formal, apresenta um compromisso social com seus educandos, na oportunidade de possibilitar acesso ao conhecimento e a aquisição da linguagem, para muni-los de conhecimentos, permitindo lutas por condições de igualdade, justiça e emancipação. 

Dessa maneira, com o objetivo de analisar os aspectos formativos à alfabetização presentes nas rodas de conversas do último ano da Educação Infantil, revisitamos o banco de teses e dissertações da Capes para observar as pesquisas correlatas ao nosso objeto de investigação. Para conhecer as pesquisas desenvolvidas acerca do nosso tema, revisitamos as produções do Banco de Teses e Dissertações da Capes. Utilizamos o recorte temporal de 2013 a 2023 que se justifica por ser, inicialmente a partir de 2011, o momento em que entra em vigor a Resolução nº 7 de 14 de dezembro de 2010, a qual fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental com duração de 9 (nove) anos e, em 2013 se consolida a obrigatoriedade da matrícula aos 4 (quatro) anos na Pré-Escola, conforme estabelecido pela Lei nº 12.796 de 2013 que altera o artigo quarto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a saber:

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio; II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade (BRASIL, 2013)

 

Diante dessas alterações, a obrigatoriedade da frequência escolar, que antes era do ensino fundamental ao ensino médio, compreendido dos 6 (seis) aos 14 (quatorze) anos, agora estende-se até os 17 (dezessete) anos de idade, contemplando a educação infantil na etapa da pré-escola. Por isso, nossa busca a partir de 2013. Utilizamos a combinação dos termos: “alfabetização na Educação Infantil” e “rodas de conversa na Educação Infantil”.

Ao introduzir a nossa primeira palavra-chave encontramos um resultado de 376 publicações. Com o número significativo, aplicamos os filtros Mestrado e Doutorado obtivemos 311 teses e dissertações. Posteriormente, refinamos por ano (2013 a 2023) o recorte temporal estabelecido para esta pesquisa, encontramos 143 publicações relacionadas ao descritor utilizado. Ainda com os filtros aplicados, selecionamos ciências humanas para a grande área do conhecimento e chegamos a um total de 107 teses e dissertações. Com um resultado ainda grandioso, selecionamos para a área conhecimento educação e encontramos 94 publicações. Na sequência aplicamos na área concentração os filtros: educação; educação; educação e formação humana; educação escolar; educação, cultura e linguagens, educação, cultura e processos formativos; educação, linguagem e psicologia e psicologia da educação e chegamos ao total de 72 publicações, divididas em 57 dissertações e 15 teses.

A partir destas produções realizamos a leitura do título, resumo e introdução a fim de identificar a faixa etária dos grupos discutidos, com ênfase nas quais utilizaram o público-alvo da pré-escola (5 anos de idade), além de aproximação teórica e do tema de pesquisado.  Com isso, selecionamos uma tese e três dissertações que se aproximavam do nosso objeto de estudo. As demais versavam sobre questões relacionadas à Educação Infantil e educação física, ao Ensino de Jovens e Adultos, transição da Educação Infantil para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, PNAIC na Educação Infantil, análise da BNCC na Educação Infantil, centralidade na alfabetização escrita ou fônica, formação continuada dos professores e o PNAIC, documentos relacionados a políticas públicas e distanciamento do nosso subsídio teórico e tema.

Com o segundo descritor, “roda de conversa na Educação Infantil” encontramos um total de 112 publicações. Na sequência, aplicamos o filtro tese e dissertação e obtivemos 90 pesquisas. Com o recorte temporal (2013-2023) devido a obrigatoriedade da matrícula aos 4 (quatro) anos na Pré-Escola, conforme estabelecido pela Lei nº 12.796 de 2013 localizamos 60 escritas. E por fim, na grande área do conhecimento aplicamos o item ciências humanas e encontramos 54 publicações. No item área do conhecimento delimitamos os itens educação, psicologia e psicologia do desenvolvimento, com 52 pesquisas. Ainda com o intuito de refinar nosso resultado, aplicamos em área de concentração os filtros: desenvolvimento humano e educação; educação; educação e formação; educação e sociedade; educação, cultura e processos formativos com o total de 34 escritas, divididas em 27 dissertações e 7 teses.

Destes, fizemos uma leitura dos títulos e resumos, com o objetivo de identificar indícios de proximidade com o referencial teórico, idade estabelecida para o presente trabalho e tema de pesquisa. Selecionamos uma tese e quatro dissertações, as quais iam de encontro com nossa temática. As demais aproximavam-se de variados temas como: representações sociais, sexualidade na Educação Infantil, inclusão escolar, avaliação, sem permissão de divulgação e faixa etária diferenciada desta investigação.

 A leitura dos resumos das teses e dissertações nos possibilitou realizar a classificação dos estudos que aproximavam com o nosso objeto de pesquisa, na medida em que abordavam conceitos e concepções relacionados às rodas de conversas como movimentos possibilitadores da aquisição de linguagem das crianças na etapa da Pré-Escola.

Posteriormente, nas pesquisas selecionadas, além de olhar para os pontos iniciais como objetivo, problema, fundamentação teórica, recorte temporal, nos propusemos a ler na íntegra, de acordo com a proximidade da nossa investigação.

Quadro 1- Detalhamento das produções selecionadas

Título

Autor (a)

Instituição

Objetivo

Os processos de ensino e da aprendizagem relacionados à alfabetização e a letramento na Educação Infantil

https://encurtador.com.br/arHP5

Heliana Lia Tissiani Gobbato

2013

Universidade do Oeste de Santa Catarina

Investigar como ocorrem os processos do ensino e da aprendizagem relacionados à alfabetização e ao letramento na Educação Infantil.

Contextualização da leitura e da escrita na Educação Infantil: entre os discursos e as práticas docentes

https://l1nk.dev/zpG09

Débora Alvares Groti Sacco

2015

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Compreender como, na realidade, ocorre o ensino no último ano da Educação Infantil.

A roda de conversa na Educação Infantil: análise de seus aspectos formativos com crianças de três a cinco anos

https://l1nk.dev/5iYjV

Márcia Bertonceli

 2016

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Analisar os aspectos formativos das práticas educativas com a linguagem verbal, nas Rodas de Conversa realizadas com um grupo de crianças de três a cinco anos, em três instituições públicas de Educação Infantil, do município de Francisco Beltrão, em 2014.

A Roda da conversa na educação infantil: a constituição da criança como sujeito

https://acesse.one/aWSeT

Regina Broco Lima da Silva

2016

Centro Universitário Salesiano de São Paulo

Discutir o silenciamento ou a amplitude da voz da criança por meio da roda da conversa no espaço educativo.

“Tia, deixa eu falar!” Os sentidos atribuídos por crianças da Pré-Escola à roda de conversa em um Centro de Educação Infantil do município de Fortaleza

https://l1nk.dev/FFqlO

Janice Débora de Alencar Batista Araújo

2017

Universidade Federal do Ceará

Analisar os sentidos atribuídos por crianças da pré-escola à Roda de Conversa em um Centro de Educação Infantil da rede pública de Fortaleza.

A criança na Educação Infantil: a roda de conversa como espaço/tempo de infância, criação e experiência

https://acesse.one/RRbrI

Regina Jodely Rodrigues Campos Aguiar

2020

Universidade de Brasília

Compreender a Roda de Educação Infantil como espaço/tempo de acolhimento da fala e das especificidades das crianças e da construção da relação professor-aluno.

Os tempos e os espaços da leitura e da escrita na Educação Infantil

https://encurtador.com.br/iDPR3

 

Mellina Silva

2020

Universidade Estadual de Campinas

Investigar quais os tempos e espaços que a leitura e a escrita ocupam no universo da EI, precisamente em salas de crianças de 4 e 5 anos de idade.

Interlocuções sobre o processo de alfabetizar letrando na educação infantil em escolas municipais de Belo Horizonte

https://l1nk.dev/HdfMZ

Débora Barbosa Alves

2021

Universidade do Estado de Minas Gerais

Analisar as percepções de seis professoras em relação às suas propostas didáticas no que se refere à leitura, a escrita e ao processo de alfabetização e letramento na Educação Infantil, em escolas da rede municipal de Belo Horizonte.

Práticas discursivas colaborativas: possibilidades (des)envolventes para a alfabetização na educação infantil

https://acesse.one/n35rU

Célia Regina Fialho Bortolozo

2022

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Buscar conhecimentos relacionados à escrita, para construir transformações e fomentar rupturas, resistências e continuidades na luta pelo direito à alfabetização no e com o primeiro segmento da Educação Básica.

Quadro 1: Fonte: Capes, organizado pela autora entre os meses de agosto a novembro de 2023.

As pesquisas elencadas apontam como lacunas existentes no que diz respeito às rodas de conversa, onde nem sempre apresentam uma organização argumentativa, deixando de proporcionar a criação de zonas proximais de desenvolvimento, além de poucas pesquisas sobre o tema, fazendo-se necessário uma investigação mais ampla sobre o trabalho com a linguagem nesta faixa etária e a formação da sua consciência. É possível perceber também que as relações de parceria acontecem entre os sujeitos do mesmo campo de atuação, sendo esta, uma colaboração mais superficial e discreta, com dificuldades em aproximações do “fazer junto”.

Contribuem ainda para compreendermos no campo do debate as produções já existentes e de que forma essa dissertação pode contribuir. Essas produções adensam os debates acerca dos processos de alfabetização e letramento até as práticas docentes, com enfoque na roda de conversa como espaço formativo. Além disso, evidenciam elementos acerca da inserção da criança como sujeito ativo, da compreensão dos tempos e espaços dedicados à leitura e escrita e análises das práticas colaborativas para promover a alfabetização.

Ao analisarmos os estudos acima descritos, ficou notório que as rodas de conversas são espaços de grande relevância na formação integral dos sujeitos envolvidos. Contudo, retratam também uma prática pouco eficaz, no sentido de superar conceitos engessados, onde reprimem a voz infantil e impossibilitam o diálogo aberto e a troca de ideias, os quais são necessários para apropriação do saber e da linguagem. Uma preocupação excessiva que restringe e corrige as crianças tentando evitar os desvios de atenção fazendo com que permaneçam no tema pedagógico preparado para o momento, também foi observado durante as leituras. 

Dessa forma, é necessário ter olhar atento aos temas escolhidos para a roda de conversa, a relação estabelecida entre os sujeitos envolvidos, a palavra autoritária do professor e principalmente a socialização das crianças a partir das suas vivências cotidianas. É importante também, entender as rodas de conversas, como espaços de interlocução e constituição das crianças, como sujeitos questionadores, ativos e agentes do fazer cotidiano.

Faz-se necessário e urgente, aprofundar o olhar sobre para as condições de permanência e continuidade na singularidade de cada contexto, inclusive de oportunizar acesso aos pais e familiares acerca da importância e compreensão de atividades que valorizam a narrativa infantil, a linguagem oral, o faz de conta e a imaginação.

Diante das produções correlatas, percebemos a importância desses espaços como oportunidades para o desenvolvimento integral das crianças, especialmente no que diz respeito à construção da linguagem, do pensamento crítico e da interação social. Contudo, há desafios e contradições na prática pedagógica, como a predominância de uma visão adultocêntrica, a falta de valorização do protagonismo infantil e a pressão por resultados que podem comprometer o caráter lúdico e exploratório desses momentos.

Na mesma direção das produções correlatas, esta pesquisa tem como intencionalidade contribuir acerca das discussões sobre os aspectos alfabetizadores presentes nas rodas de conversa no último ano da Educação Infantil. Contudo, foi possível perceber que apenas duas delas, trazem especificamente a faixa etária de 4 e 5 anos, todavia, não abordam os aspectos alfabetizadores presentes nas rodas de conversa, o qual é nosso objeto de pesquisa e a lacuna que esta dissertação objetiva atender.

 

Palavras-chave: roda de conversa; aspectos alfabetizadores; linguagem.

 

REFERÊNCIAS

 

ALESSI, Viviane Maria. Rodas de conversa: uma análise das vozes infantis na perspectiva do Círculo de Bakhtin, Curitiba, 2011. 

BERTONCELI, Marcia. A Roda de Conversa na Educação Infantil: análise de seus aspectos formativos com crianças de três a cinco anos. 2016. 164 f. Programa de Mestrado em Educação, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Francisco Beltrão-PR. 2016.

BORTOLOZO, Célia Regina Fialho. Práticas discursivas colaborativas: possibilidades (des)envolventes para a alfabetização na educação infantil / Célia Regina Fialho Bortolozo. - Campinas: PUC, Campinas-SP. 2022.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

BRASIL. Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010. Dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores para a educação básica. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, 15 dez. 2010. p. 27-28.

RYCKEBUSCH, Claudia Gil. A “Roda de Conversa” na Educação Infantil: uma abordagem crítico-colaborativa na produção de conhecimento. São Paulo, s.n., 2011.

 

 

Publicado
03-10-2024
Seção
Educação, Cultura e Linguagem