TRANSAUTISMO: O APAGAMENTO DA INTERSECCIONALIDADE NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Autores

Palavras-chave:

Transautismo, Políticas Educacionais, Interseccionalidade.

Resumo

Movida por uma experiência situada como mulher trans autista, esta pesquisa tensiona os discursos hegemônicos das políticas educacionais inclusivas brasileiras, questionando a forma como esses discursos, sob uma aparência progressista, produzem exclusões. Inspirada nas teorizações foucaultianas e ancorada nas metodologias pós-críticas, a análise evidencia que tais políticas operam como dispositivos de governamento, normalização e biopolítica (Foucault, 2008; 2010; 2012), regulando corpos e subjetividades com base em normas cisgêneras, neurotípicas e desgenerificadas.

A partir da crítica de autores como Veiga-Neto e Lopes (2011), compreende-se que a inclusão, longe de ser neutra ou benéfica por princípio, atua como tecnologia de in/exclusão: acolhe para melhor excluir, silenciando sujeitos que escapam à norma. Nesse sentido, a categoria “aluno com deficiência” é tratada de forma universalista e cisnormativa, apagando identidades interseccionais como a de mulheres trans autistas. Sophia Mendonça (2022) contribui ao mostrar que a interseccionalidade entre autismo e diversidade de gênero segue invisibilizada, muitas vezes marcada por estereótipos e patologizações.

A pesquisa toma como objeto de análise documentos normativos como a LDB (1996), o PNE (2014), a BNCC (2018) e a PNEE (2008), interrogando-os como efeitos de uma racionalidade moderna que administra a diversidade dentro dos limites da norma. Ao invés de se apoiar em métodos tradicionais, adota uma postura crítica e implicada, que reconhece o lugar de fala da pesquisadora como parte do processo analítico e político. Com isso, propõe deslocar o olhar sobre a inclusão, compreendendo-a como campo de disputa e como espaço onde operam jogos de verdade (Foucault, 2012) que legitimam determinadas existências e apagam outras.

Em síntese, a pesquisa denuncia que o regime de inteligibilidade das políticas públicas educacionais não reconhece a existência de mulheres trans autistas, tornando-as ilegíveis no espaço escolar (Butler, 2015). Busca, assim, abrir fissuras no pensamento, desestabilizar verdades instituídas e provocar reflexões sobre como a inclusão, tal como estruturada, perpetua desigualdades sob a aparência de equidade.

Biografia do Autor

  • Patrícia Gräff, Universidade Federal da Fronteira Sul

    Doutora em Educação. Mestre em Educação nas Ciências. Licenciada em Educação Especial e
    Pedagogia. Docente no Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal da Fronteira
    Sul. Líder do Grupo de Pesquisa em Políticas e Práticas de Inclusão (GPPPIn/UFFS/CNPq)

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Publicado

20-10-2025