POR UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: EXPERIÊNCIAS DE UM PROJETO DE EXTENSÃO DO IFRS- CAMPUS SERTÃO
Resumo
A inclusão, a permanência e êxito escolar de estudantes com necessidades educacionais específicas, além de constituírem um direito, são fundamentais para a construção de uma escola democrática, plural e comprometida com o processo de ensino e aprendizagem. Nesse contexto, as práticas educacionais inclusivas ganham centralidade ao promover espaços de inclusão, conscientização e formação, bem como fortalecem o respeito à diversidade e à equidade. Este trabalho apresenta as ações desenvolvidas no âmbito do projeto de extensão intitulado: Ações educativas sobre educação especial na perspectiva da inclusão social no município de Sertão/RS – Rio Grande do Sul. O projeto é uma das iniciativas desenvolvidas por integrantes do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE), vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Sertão. O projeto conta com auxílio de bolsistas que atuam na organização e execução das ações educativas, fortalecendo o vínculo entre a instituição e a comunidade escolar.
O projeto tem como objetivo principal promover ações educativas voltadas à educação especial, com ênfase na inclusão social, destacando o direito das pessoas com necessidades educacionais específicas ao pleno acesso, permanência e êxito na educação básica.
O projeto está em andamento desde o ano de 2014 e, em 2024, as atividades foram realizadas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Engenheiro Luiz Englert, localizada no município de Sertão – RS, bem como no IFRS – Campus Sertão.
O projeto possui relevância por tratar de um tema presente no cotidiano educacional e alinhado à política de ações afirmativas do IFRS. Sua importância está diretamente relacionada à necessidade de aprofundar o trabalho voltado à inclusão, uma vez que essa área ainda carece de maior conhecimento sobre as práticas de inclusão escolar. Assim, discutir essa temática torna-se essencial para ampliar o atendimento e aprimorar as ações já desenvolvidas nas escolas. Há uma urgência em atender o público da educação inclusiva com olhares mais sensíveis e atentos às suas especificidades. Nesse sentido, o trabalho articulado entre o NAPNE e as escolas parceiras revela-se fundamental, tanto para troca de experiências quanto para a construção coletiva de estratégias de acolhimento e inclusão.
Por meio da educação, garantimos nosso desenvolvimento social, econômico, político, cultural, entre outros aspectos. Trata-se de um direito social assegurado a todas as pessoas, independentemente de suas especificidades. Diante disso, o presente projeto apresenta interação dialógica, pois busca abordar a temática da educação especial por meio de atividades que promovam reflexões sobre a garantia de uma educação de qualidade para todos, de forma construtiva e dialógica com os participantes, possibilitando que todos possam aprender.
O presente projeto pauta-se na indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão. No âmbito do ensino, está diretamente vinculado às atividades educativas realizadas, bem como à construção e à troca de conhecimentos entre estudantes, professores e demais integrantes da comunidade escolar. No campo da pesquisa, destaca-se pela produção de saberes que emergem do cotidiano das escolas participantes, a partir do diálogo constante e da compreensão do contexto social, educacional e cultural em que essas instituições estão inseridas.
O projeto também estabelece articulação entre profissionais de diversas áreas do conhecimento, os quais contribuem com seus saberes e experiências na abordagem da temática central: a educação especial. Os profissionais e estudantes envolvidos levam consigo sua bagagem teórica e prática para os contextos escolares, onde, além de compartilharem conhecimentos, também aprendem por meio das trocas cotidianas. Esse processo dialógico favorece a ressignificação de suas práticas profissionais. Destaca-se, ainda, a relevância dessa vivência para a formação dos estudantes participantes, especialmente do estudante bolsista, que tem a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos teóricos, desenvolver habilidades práticas e ampliar sua compreensão sobre os desafios e possibilidades da inclusão escolar.
As atividades são pautadas na disseminação de informações, ideias, conceitos, experiências e reflexões críticas de forma dialógica, buscando sensibilizar estudantes e professores para a construção de uma cultura de respeito à diversidade em nosso sistema educacional. Buscamos contemplar o que a educadora Mantoan aborda como ensino de qualidade, ou seja:
Tem-se um ensino de qualidade a partir de condições de trabalho pedagógico que implicam formação de redes de saberes e de relações, que se entrelaçam por caminhos imprevisíveis para chegar ao conhecimento; existe ensino de qualidade quando as ações educativas se pautam na solidariedade, na colaboração, no compartilhamento do processo educativo com todos os que estão direta ou indiretamente nele envolvidos. A aprendizagem nessas circunstâncias é a centrada, ora sobressaindo o lógico, o intuitivo, o sensorial, ora os aspectos social e afetivo dos alunos. Nas práticas pedagógicas predominam a experimentação, a criação, a descoberta, a coautoria do conhecimento. Vale o que os alunos são capazes de aprender hoje e o que podemos oferecer-lhes de melhor para que se desenvolvam em um ambiente rico e verdadeiramente estimulador de suas potencialidades (2003, p. 34).
Como metodologia de trabalho, são promovidos encontros periódicos de planejamento entre os bolsistas e os servidores envolvidos no projeto. As ações desenvolvidas podem incluir oficinas, rodas de conversa, intervenções pedagógicas e a produção de materiais informativos. O livro Por uma escola inclusiva e acessível: conceitos e caminhos têm sido utilizado como uma das referências teóricas e práticas para a orientação das ações. É importante salientar que os planejamentos e abordagens são do conhecimento das escolas onde o projeto é desenvolvido. Ou seja, mantemos um diálogo permanente com os professores e com a equipe diretiva, que também contribuem com seus anseios e sugestões.
Dentre as atividades desenvolvidas em 2024 com as turmas do 1º ao 9º ano, destacam-se as seguintes ações: A primeira atividade consistiu na apresentação do projeto a todas as turmas da Escola Estadual participante, com o intuito de explicar aos alunos o que é o projeto, seus objetivos, além de identificar seus conhecimentos prévios e interesses sobre o tema. Posteriormente, realizamos uma atividade sobre as deficiências, na qual foram abordados os diferentes tipos de deficiência, algumas curiosidades, o cotidiano das pessoas com deficiência, entre outros aspectos. O objetivo foi promover um diálogo aberto e reflexivo sobre o assunto.
Em um dos encontros, utilizamos a nuvem de palavras como recurso pedagógico com os estudantes do 6º ao 9º ano. Eles foram convidados a dizer palavras que representassem o que entendiam sobre inclusão social. Outra abordagem muito utilizada nas escolas é a roda de conversa. Em um dos encontros, entregamos a cada aluno uma frase relacionada à inclusão, com o objetivo de que lessem e explicassem o que entenderam a partir dela. Essas abordagens possibilitaram a participação ativa dos estudantes, que puderam contribuir com suas experiências e conhecimentos, promovendo a construção do aprendizado por meio da troca de vivências com os colegas e com os participantes do projeto.
Um dos temas abordados durante a realização do projeto foi o capacitismo. A discussão incluiu a explicação do conceito, compreendido como um conjunto de atitudes, comportamentos e estruturas sociais que discriminam ou subestimam pessoas com deficiência, com base na ideia de que essas pessoas são inferiores ou menos capazes. A partir dessa reflexão, os alunos foram incentivados a identificar e questionar práticas capacitistas presentes em nossa sociedade, promovendo a conscientização crítica sobre como o preconceito e a exclusão se manifestam em diferentes contextos.
Outra ação realizada de forma contínua foi a Aventura Inclusiva, que consiste na criação de um banner com o título Aventura Inclusiva, com o objetivo de apresentar recomendações de filmes, livros, séries e outras produções que abordem a temática das pessoas com deficiência. A proposta visa sensibilizar e informar toda a comunidade escolar das instituições envolvidas no projeto, promovendo o acesso a conteúdos que valorizem a diversidade e contribuam para a construção de uma cultura mais inclusiva.
Outra ação realizada no âmbito do projeto foi voltada às Paralimpíadas, desenvolvida com estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. A atividade teve início com uma apresentação em slides elaborada e conduzida pelo estudante bolsista, abordando o que são as Paralimpíadas, sua história e sua relevância no contexto brasileiro. Além disso, foi exibido um vídeo que destacou as principais diferenças entre as Olimpíadas e as Paralimpíadas, com o objetivo de ampliar o conhecimento dos alunos e promover a valorização do esporte adaptado. Ao final da apresentação, os estudantes receberam folhas de papel nas quais foram convidados a expressar, por meio de texto ou desenho, o que compreenderam da atividade. A proposta buscou estimular a reflexão, a criatividade e a inclusão.
Também foi realizada uma palestra sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), voltada a docentes do ensino. Durante esse encontro, enquanto o bolsista e a coordenadora do projeto desenvolviam com os estudantes atividades relacionadas à proposta do projeto, a psicóloga do IFRS – Campus Sertão conduzia, simultaneamente, uma atividade com os professores, abordando aspectos teóricos e práticos do TDAH. Essa ação teve como objetivo promover a formação continuada dos profissionais da educação, contribuindo para a compreensão do transtorno e para a adoção de estratégias pedagógicas mais inclusivas e eficazes no contexto escolar.
O bolsista vinculado ao projeto em 2024 participou do IX SerTão Aplicado, desenvolvido no próprio campus, e do 9º Salão de Pesquisa, Extensão e Ensino do IFRS. Tais eventos, além de contribuírem significativamente para a formação acadêmica dos estudantes, possibilitam o contato com outras realidades por meio de trocas de experiências e socialização de conhecimentos. Essas vivências fortalecem o protagonismo estudantil, estimulam o pensamento crítico e promovem o engajamento com temas relevantes para a construção de uma educação mais inclusiva e plural.
Conclui-se que o projeto alcançou com êxito seu principal objetivo. O projeto revelou-se fundamental para a formação de uma cultura escolar mais inclusiva, ao estabelecer espaços de diálogo, reflexão e conscientização sobre a diversidade e os desafios enfrentados por pessoas com deficiência. Essa abordagem contribuiu para o enfrentamento de atitudes capacitistas, o combate ao preconceito e a promoção de uma convivência mais respeitosa e acolhedora no ambiente escolar.
Para o estudante bolsista, a experiência foi especialmente formativa, não apenas por representar sua primeira participação em um projeto de extensão, mas também por possibilitar a vivência em um espaço educativo externo ao IFRS. A atuação no projeto proporcionou o desenvolvimento de habilidades de comunicação, planejamento e sensibilidade para o uso de uma linguagem mais inclusiva, além de ampliar sua compreensão sobre práticas pedagógicas voltadas à equidade.
Palavras chaves: Ações Educativas. Educação especial. Extensão.
Agradecimentos
IFRS- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul ao apoio para participar de Programa de Capacitação/Qualificação Stricto Sensu.
