MERITOCRACIA E REPRODUÇÃO DE PRIVILÉGIOS:
UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR
Resumo
A meritocracia emerge na sociedade tendo em vista a retórica de tensionamento aos privilégios aristocráticos. Nessa perspectiva, é idealizada como uma forma de justiça social, porquanto em uma sociedade com igualdade de oportunidades, apenas o mérito individual seria valorizado. No entanto, a dissertação de mestrado em andamento, da qual foram retirados recortes para esse resumo, questiona e apresenta de forma exploratória, por meio de uma abordagem qualitativa, utilizando-se da pesquisa bibliográfica e documental, em que medida o capital cultural explica a reprodução de privilégios da classe média brasileira em um cenário de desigualdades sociais e apelo meritocrático. Os autores Pierre Bourdieu e Jessé Souza apresentam críticas quanto a forma com que a classe média utiliza o capital cultural para a reprodução de privilégios. Consoante Bourdieu (2007), as crianças das classes médias devem à sua família não só os encorajamentos ao esforço escolar, mas também um caráter moral de ascensão social e de aspiração ao êxito na escola, que lhes permite contrapesar a carência cultural com a aspiração fervorosa à aquisição de cultura. Já, as crianças oriundas das classes populares são prejudicadas em relação à facilidade de assimilar a cultura e a propensão para adquiri-la. Assim, para Souza (2018) o capital cultural permite a classe média lutar no mercado de trabalho por empregos melhores e mais estáveis do que os marginalizados. De acordo com Sandel (2020) o aumento da desigualdade em décadas recentes não acelerou a mobilidade social ascendente, mas, ao contrário, permitiu a reprodução de privilégios.