“É escuro, é ir pra escuridão”
sentidos do ser-professor no Novo Ensino Médio
Palavras-chave:
Docência, Novo Ensino Médio, Prática docenteResumo
A pesquisa analisa os discursos que atravessam os dizeres de professores de línguas da rede pública estadual de Chapecó/SC, no contexto do Novo Ensino Médio, instaurado pela Lei nº 13.415/2017. Fundamentada na Análise de Discurso de orientação pecheuxtiana (PÊCHEUX, [1983] 1990; ORLANDI, 2020), a investigação busca compreender como os sentidos de ser e estar professor se reconfiguram diante da implementação dos itinerários formativos, que promovem a flexibilização curricular e a redução da carga horária das disciplinas específicas. Parte-se da hipótese de que tal reconfiguração produz deslocamentos discursivos que desestabilizam a posição-sujeito docente, ao mesmo tempo em que inscrevem a escola na lógica neoliberal de gestão, eficiência e polivalência (KUENZER, 2017). O corpus foi constituído por entrevistas com professores atuantes nos itinerários formativos, das quais foram selecionadas duas sequências discursivas (SD1 e SD2). As formulações “começar do zero” e “acende uma lanterninha e vai” evidenciam a emergência de sentidos de descontinuidade, improviso e solidão, que revelam o modo como os docentes se reinscrevem diante das exigências institucionais e simbólicas da reforma. O sujeito-professor, deslocado de uma posição legitimada pela memória disciplinar, passa a ocupar um lugar instável, fragmentado e performativo. Conclui-se que os itinerários formativos produzem efeitos de precarização simbólica e material da docência, ao mesmo tempo em que mobilizam discursos de autonomia e inovação. Os dizeres docentes, contudo, fazem emergir resistências e incômodos, evidenciando a tensão entre permanências e rupturas na constituição do sujeito-professor e na significação contemporânea da escola pública.
