INTEGRAÇÃO ENSINO-SERVIÇO-COMUNIDADE NA FORMAÇÃO EM SAÚDE
COMO SUPERAR A DICOTOMIA ENTRE TEORIA E PRÁTICA?
Palavras-chave:
Sistema Único de Saúde (SUS), formação profissional em saúde, currículo, integração ensino-serviço-comunidadeResumo
- Introdução
A integração ensino–serviço–comunidade (IESC) surge como estratégia crucial para efetivar a função formativa do SUS ao promover um ensino que dialoga diretamente com a prática e a realidade social. Conforme Krawczyk, Schneider e Silveira (2018), a IESC introduz o SUS como campo formativo real, articulando os saberes acadêmicos, os profissionais de saúde e a comunidade em processos dialógicos e emancipatórios. Esse modelo se apoia na Política Nacional de Humanização, favorecendo o protagonismo dos sujeitos envolvidos e o fortalecimento de vínculos com os usuários e com a gestão local. A IESC não é uma atividade extra ao currículo, mas sim um eixo estruturante da formação em saúde (Krawczyk; Schneider; Silveira, 2018).
No contexto das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), a IESC é reconhecida como elemento orientador do perfil do trabalhador da saúde, que deve ser generalista, crítico e reflexivo (Brasil, 2002; Zarpelon et al., 2020). Zarpelon et al. (2020) ressaltam que o desenho curricular deve superar dicotomias entre teoria e prática, incorporando espaços em que o SUS seja vivenciado como localização real de intervenção e aprendizado. A IESC, portanto, sustenta o compromisso com competências essenciais como integralidade, equidade, comunicação e liderança (Brasil, 2002; Zarpelon et al., 2020).
Exemplos concretos de IESC demonstram seu potencial formativo. Negrini et al. (2017) relataram a experiência da Unidade Escola Estratégia de Saúde da Família “São Francisco de Assis” em Bragança Paulista, onde 183 acadêmicos realizaram mais de 3.600 atendimentos entre janeiro e junho de 2017, promovendo acolhimento, discussão coletiva de casos e continuidade do cuidado em parceria com gestores municipais. Já na Universidade de Brasília (UnB), o SIESCO — Sistema de Integração Ensino-Serviço-Comunidade — articulou, a partir de 2016, disciplinas interprofissionais e estágios supervisionados por preceptores do SUS, fortalecendo a formação integrada sob a ótica da educação permanente e dos Programas Pró‑Saúde e PET‑GraduaSUS (Souza et al., 2017).
O objetivo geral é analisar, a partir da literatura científica, como a integração ensino-serviço-comunidade se aproxima ou distancia da formação em saúde, buscando caminhos para superar a dicotomia entre teoria e prática no Sistema Único de Saúde (SUS).
- Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, em uma abordagem qualitativa. A busca foi realizada no primeiro semestre de 2025, através dos descritores “Sistema Único de Saúde (SUS)”, “formação profissional em saúde”, “currículo”, e “integração ensino-serviço-comunidade”, nos seguintes buscadores e/ou bases de dados: Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Scientific Electronic Library Online (SciELO), e PubMed (base de dados e sistema de pesquisa online para literatura biomédica e de ciências da vida, desenvolvido e mantido pelo National Center for Biotechnology Information - NCBI da National Library of Medicine - NLM nos Estados Unidos da América - EUA). A análise dos dados ocorreu de maneira crítico-reflexiva, a partir dos de referenciais teóricos, filosóficos e epistemológicos que ancoram o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira e o SUS, e a organização dos resultados ocorreu com a identificação dos principais pontos em comum entre os autores e a sistematização das ideias em torno do tema central do estudo.
- Resultados e discussão
- Considerações finais
Apesar dos avanços, persistem desafios importantes: a fragilidade dos espaços de cogestão formal entre universidade, serviço e comunidade, o desconhecimento das dinâmicas locais pelos atores envolvidos e o risco de se tratar a IESC como política pontual e não estrutural (Costa; Fadel apud Zarpelon et al., 2020; Zarpelon et al., 2020). A consolidação da IESC exige, além do comprometimento institucional, a criação de instâncias permanentes de diálogo (Comitês Gestores dos Contrato Organizativo de Ação Pública Ensino-Saúde - Coapes), alinhadas aos programas do Ministério da Saúde, para garantir que essa integração ultrapasse o papel de estratégia isolada e se consolide como dimensão estruturante da educação em Serviço Social e demais cursos da saúde (Zarpelon et al., 2020).
Referências
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Agradecimentos: À Bolsa de Pós-Doutorado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), Edital 20/2024, pelo fomento à pesquisa, e à Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó-SC, e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Florianópolis-SC, pelo apoio acadêmico e incentivo à ciência com qualidade.
