A AÇÃO DA COOPERATIVA MADEIREIRA DO VALE DO URUGUAI LTDA NO OESTE CATARINENSE (1940–1970) 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Autores

  • Adrieli Carla Coproski Wenning Rodrigeri Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Universidade Federal da Fronteira Sul

Resumo

 

 

  1. Introdução

O processo de colonização do Oeste de Santa Catarina, intensificado ao longo do século XX, resultou em profundas transformações na paisagem e na organização econômica regional. A ocupação do território foi impulsionada por companhias colonizadoras em articulação com o Estado, como apontam Werlang (2006) e Radin e Vicenzi (2017), e teve como uma de suas principais estratégias a exploração intensiva dos recursos naturais, especialmente da madeira (Nodari, 2012; Silva, Brandt e Moretto, 2017).

Nesse contexto, destaca-se a atuação da Cooperativa Madeireira do Vale do Uruguai LTDA, fundada oficialmente em 1944 e registrada em 1945. A cooperativa teve papel relevante na organização da produção madeireira, reunindo cerca de 100 associados em 1949 e promovendo a venda conjunta da madeira, o que resultou na melhoria dos preços e no fortalecimento da classe madeireira regional (Bellani, 1991). Sua atuação estendeu-se por boa parte do Vale do Uruguai, aproveitando a riqueza das fitofisionomias da Floresta Ombrófila Mista (FOM) e da Floresta Estacional Decidual (FED), ambas pertencentes ao bioma da Mata Atlântica (Silva, Brandt e Moretto, 2017).

Este projeto de pesquisa, atualmente na fase inicial de desenvolvimento, conta com o fomento financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC) e tem como objetivo analisar como a Cooperativa moldou as relações entre sociedade e meio ambiente entre 1940 e 1970, a partir da perspectiva da História Ambiental, que compreende a ação humana sobre a natureza como parte indissociável da experiência histórica (Worster, 1991; Drummond, 1991). Pretende-se identificar os associados da cooperativa, mapear os locais impactados, compreender as relações de trabalho envolvidas e investigar as transformações ambientais desse processo de exploração florestal.

  1. Metodologia

A pesquisa adota uma abordagem qualitativa e quantitativa, orientada  nos pressupostos da História Ambiental (Worster, 1991; Dean, 1996), e fará uso de análise documental. O levantamento de fontes inclui periódicos regionais como A Voz de Chapecó, O Imparcial e Folha do Oeste (Luca, 2008)), além de registros fotográficos, mapas e documentação da cooperativa disponíveis no acervo do CEOM/Unochapecó.

O trabalho dialoga com autores que investigaram a ocupação do território e a atividade madeireira, como Vicenzi (2008), Bellani (1991), Nodari (2012), Moretto e Ribeiro (2020), buscando complementar lacunas deixadas quanto à dimensão ambiental e à dinâmica interna das cooperativas. A análise crítica das fontes busca compreender como a atividade madeireira foi representada na mídia local e seus impactos concretos sobre o território.

  1. Resultados e discussão

Os primeiros resultados revelam que a Cooperativa Madeireira atuou como elo articulador entre os produtores de madeira e o mercado consumidor, especialmente nas cidades de São Borja e Uruguaiana, para onde a produção era escoada via balsas pelo rio Uruguai (Bellani, 1991). Com o tempo, o desenvolvimento da infraestrutura viária e a introdução do transporte por caminhões permitiram ampliar o alcance da comercialização madeireira (Nodari, 2012).

Além do aspecto econômico, observa-se um processo acelerado de transformação da paisagem. As áreas de Floresta Ombrófila Mista e Estacional Decidual foram derrubadas para dar lugar à agricultura e pecuária, práticas valorizadas pelos colonos e incentivadas pelas companhias colonizadoras (Silva, Brandt e Moretto, 2017). A antropização da paisagem foi marcada pelo uso intensivo do machado, fogo e posteriormente da motosserra, conforme apontado por Nodari (2012).

Em 1975, a Cooperativa Madeireira foi incorporada pela Cooperalfa, em um processo que marca a reestruturação das práticas produtivas na região (Forneck, 2015). Esse momento simboliza o fim da atuação autônoma da cooperativa e o início de uma nova fase no cooperativismo regional, mais voltada para a agroindústria.

  1. Considerações finais

A experiência da Cooperativa Madeireira do Vale do Uruguai LTDA evidencia as intersecções entre colonização, exploração de recursos e reorganização do espaço no Oeste catarinense. A partir de uma perspectiva histórica e ambiental, é possível compreender como a ação coletiva organizada em torno da exploração da madeira moldou práticas produtivas e transformou de maneira duradoura a paisagem regional.

O estudo contribui para o campo da História Ambiental ao propor uma leitura crítica do processo de desenvolvimento regional, destacando os impactos socioambientais de práticas econômicas tidas como "progresso". Também reforça a importância de se recuperar a memória das instituições cooperativas como agentes históricos com papel decisivo nas dinâmicas de ocupação e transformação do território.

Referências

BELLANI, E. M. Madeira, balsas e balseiros no Rio Uruguai: o processo de colonização do velho município de Chapecó (1917–1950). Dissertação (Mestrado em História). UFSC, 1991.

DEAN, W. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

DRUMMOND, J. A. A História Ambiental: temas, fontes e linha de pesquisa. Estudos Históricos, v. 4, n. 8, p. 177–197, 1991.

FORNECK, E. Formar um novo sujeito: educação técnica e cooperativa na Cooperalfa (1977–1996). Dissertação (Mestrado em História). UFSC, 2015.

LUCA, Tânia Regina de. Fontes impressas: história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 121-142.

NODARI, E. S. “Mata Branca”: o uso do machado, do fogo e da motosserra na alteração da paisagem no estado de Santa Catarina. In: NODARI, E. S.; KLUG, J. (org.). História Ambiental e migrações. São Leopoldo: Oikos, 2012.

RADIN, J. C. O jornalismo como fonte para a história regional. Cadernos do CEOM, n. 17, 2004.

RADIN, J. C.; VICENZI, R. A colonização em perspectiva no centenário de Chapecó. In: CARBONERA, M. et al. Chapecó 100 anos: histórias plurais. Chapecó: Argos, 2017.

SILVA, C. M. da; BRANDT, M.; MORETTO, S. P. Transformando a paisagem: uma história ambiental de Chapecó. In: CARBONERA, M. et al. Chapecó 100 anos: histórias plurais. Chapecó: Argos, 2017.

WORSTER, D. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, v. 4, n. 8, p. 198–215, 1991.

Agradecimentos 

 

A presente pesquisa conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), por meio da concessão de bolsa de estudos. Agradeço à Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e ao Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) pelo suporte institucional. Agradeço também ao professor Marlon Brandt pela orientação e apoio na construção deste trabalho.

 

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Publicado

24-11-2025