Infância e Narrativa em Walter Benjamin

Autores

  • Karen Jociani Coletti Gomes UFFS
  • Élsio José Corá

Palavras-chave:

Infância, Narrativa, Experiência, Walter Benjamin

Resumo

A presente pesquisa investiga as interconexões entre a Infância e a  Narrativa a partir do pensamento de Walter Benjamin. Tradicionalmente, a infância tem sido concebida no Ocidente como uma etapa de incompletude, um "vir-a-ser" definido por suas faltas e marcado por um silenciamento histórico, em que a voz da criança não é reconhecida como linguagem válida. Benjamin, em contrapartida, propõe uma visão radicalmente distinta, compreendendo a infância como um campo de experiência pleno, dotado de densidade sensível e valor expressivo. Para ele, a criança é um sujeito ativo, capaz de construir sentidos a partir dos "restos da história", transformando materiais e símbolos negligenciados pelo mundo adulto por meio da imaginação e da reinvenção de novas formas de vida e linguagens. Este trabalho busca evidenciar como a narrativa contribui para a valorização da infância como forma de vida plena, e não como um estágio inferior da existência. A arte de narrar, entendida como a faculdade de intercambiar experiências, preocupa Benjamin em relação à sua extinção na modernidade, onde a experiência coletiva (Erfahrung) é substituída por vivências individualizadas (Erlebnis). A pesquisa demonstra as contribuições da infância para a continuidade da narrativa quando a criança narra as experiências da infância. Benjamin denuncia a ruptura entre o mundo adulto e a experiência infantil, frequentemente reduzida a um objeto pedagógico, e propõe que o verdadeiro encontro com a infância exige abandonar modelos de controle e abrir-se à escuta e à complexidade da experiência infantil. Em suma, a dissertação conclui que observar as materialidades da infância à luz do pensamento benjaminiano é reconhecer nelas um campo de resistência sensível à industrialização da experiência. O brincar emerge como um gesto poético e político que transforma sobras em mundos, ruínas em brinquedos e detritos em narrativa. Nesse território de invenção e escuta, a infância se afirma como forma de vida autônoma, criadora e profundamente relacional, capaz de resistir às formas endurecidas da vida adulta e de reinaugurar a experiência. Restituir à infância seu estatuto de alteridade legítima é, portanto, uma operação política e epistêmica fundamental para reconfigurar o que se entende por saber, sujeito e existência.

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Publicado

24-11-2025