UM OLHAR DISCURSIVODESCONSTRUTIVO SOBRE OS EFEITOS DE SER PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ACONTECIMENTO DA PANDEMIA DE COVID-19

Autores

  • Mary Stela Surdi UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul

Palavras-chave:

Discurso. Sujeito-professor de Língua Portuguesa. Modos de Subjetivação. Pandemia. Acontecimento. Efeitos.

Resumo

Neste trabalho apresento alguns resultados da pesquisa em nível de doutoramento vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PPGEL) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Chapecó-SC e tem como tema os efeitos de sentido de ser professor de língua portuguesa no acontecimento da pandemia de Covid-19. Esse acontecimento promoveu uma série de disrupturas nos modelos vigentes no mundo do trabalho, nas relações sociais, no campo da educação e nos modos de subjetivação. Uma dessas disrupturas no campo educacional pode ter afetado os modos de subjetivação de sujeitos-professores de língua portuguesa, instaurando outras redes de filiação de sentidos do que se interpreta sobre “ser professor de língua portuguesa”. Teoricamente, pauto-me em uma perspectiva discursiva em aproximação com a desconstrução e a psicanálise. O objetivo principal foi analisar se a experiência de ensino remoto emergencial provocou deslocamentos nos modos de subjetivação dos sujeitos-professores, implicando (ou não) a constituição de novos processos identificatórios de ser-professor, tendo como materialidades significantes escrituras de si de graduados do Curso de Letras da UFFS, campus Chapecó-SC. Metodologicamente, o arquivo foi constituído com entrevistas semiestruturadas realizadas com dez sujeitos-professores de língua portuguesa que falaram de si e sobre a experiência de ser professor durante o acontecimento da pandemia de Covid-19. Desse arquivo, extraí um conjunto de regularidades discursivas que constituem o corpus deste estudo, a saber: o unheimlich, a angústia, o desejo, o falar de si e a docência pandêmica. Em meu olhar-leitor,  o unheimlich foi interpretado como um efeito decorrente do súbito e do inesperado, provocado pelo ensino remoto emergencial em confronto ao ensino presencial; a angústia, como um afeto que se manifestou via corpolinguagem, com efeitos que provocaram questionamentos e incertezas sobre o fazer docente;  o desejo, como um efeito do afeto da angústia, que mobilizou o sujeito-professor a se deslocar da posição de sujeito desamparado para sujeito desejante; o falar de si como um gesto com seus efeitos phármakon de veneno remédio, que revela a necessidade e a im possibilidade desse gesto. Dentre algumas considerações, vislumbro que os efeitos e os afetos experienciados por esses sujeitos provocaram deslocamentos nos modos de subjetivação de ser professor e ao propor um olhar discursivo desconstrutivo sobre a docência pandêmica, busquei compreender e interpretar o que essa experiência sugere sobre aspectos que se poderia avançar para pensar a formação de professores, em especial, a formação inicial, lugar de onde me posiciono como sujeita-pesquisadora-formadora. Nosso desafio é o de pensar os processos de formação não mais pela (suposta) certeza de que sabemos ser professores (em uma modalidade de ensino específica), instalando a contradição e a heterogeneidade como categorias constitutivas dos modos de subjetivação docente.

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Publicado

24-11-2025