MULHERES QUE ESCREVEM
REFLEXÕES DE GÊNERO SOBRE AS OBRAS DE JULIAN DE NORWICH E MARGERY KEMPE (SÉCULOS XIV-XV)
Palavras-chave:
Idade Média, Gênero, IntelectualidadeResumo
Este resumo tem como objetivo apresentar algumas reflexões a partir do andamento da tese, ainda incipiente, acerca das narrativas cristãs de Julian de Norwich e Margery Kempe. Desta Forma, começamos indagando quais os limites e implicações de pensar mulheres em um contexto do um final de uma Idade Média “resolutamente masculina” (Duby, 2011, p.7)?
Desta forma, pretende-se investigar nesta pesquisa, assim com o auxílio da perspectiva do Estudos de Gênero para pensar-se na subjetividade que pode conter nos escritos das mulheres e nas relações complexas culturais que envolve analisar o lugar da mulher em uma dada sociedade. Desse modo, se encaixam Revelações do Amor Divino (finalizado em fins dos anos 1390), de Julian de Norwich e O Livro de Margery Kempe (finalizado aproximadamente em 1440), de Margery Kempe, ambas autoras inglesas que se consolidaram como mulheres importantes dentro do cristianismo católico ao longo dos séculos. Suas imagens evocam espiritualidade e turismo nas cidades de Norwich e King’s Lynn ambas na Inglaterra, as Igrejas de St. Julian's e King’s Lynn Minster (antiga St Margaret’s) indicam isso. Julian de Norwich, uma anacoreta, considerada a primeira mulher a escrever um livro em inglês e Margery Kempe, a primeira a escrever uma autobiografia no idioma. Observa-se que essa popularidade é posterior a suas publicações, embora Kempe em seu livro demonstra que Julian tinha uma espécie de fama como conselheira espiritual. Embora populares ao longo dos séculos e obterem espaços nas suas respectivas Igrejas para turismo, o mesmo não aconteceu com suas obras que permanecem à margem das experiências intelectuais da Idade Média. De modo, a contemplar nossa temática e pensar como nossas fontes dialogam com nossa investigação, precisamos pensar nas duas produções literárias das autoras místicas como uma possível tangibilidade da socialização de papéis de gênero. O que as narrativas nos ilustram são as possibilidades das protagonistas fazerem parte, no sentido público, pois externalizam seus pensamentos de um cristianismo, passando por animosidades no contexto das publicações. Ao analisarmos fontes literárias, e principalmente recuadas no tempo, nos deparamos com questões misóginas em inúmeras delas, portanto é necessário recorrer às críticas feministas e dos estudos de gênero para interrogar essas produções coletivas.
