SOCIOFUNCIONALISMO

CONVERGÊNCIA TEÓRICA NO ESTUDO DA VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA

Autores

  • André Fabiano Bertozzo Doutorando do PPGEL - UFFS
  • Cláudia Andrea Rost Snichelotto UFFS

Palavras-chave:

CONVERGÊNCIA TEÓRICA NO ESTUDO DA VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA, SOCIOFUNCIONALISMO

Resumo

O Sociofuncionalismo é uma proposta teórico-metodológica que reúne, de um lado, os pressupostos da Sociolinguística Variacionista — formulada por Weinreich, Herzog e Labov (1968) e Labov (1972) — e, de outro, os aportes do Funcionalismo norte-americano, especialmente nas abordagens baseadas no uso (Bybee, 2016). A primeira compreende a língua como objeto de estudo em seu contexto social, concentrando-se na comunidade de fala e nas variáveis que influenciam a variação linguística. O segundo concebe a língua como um sistema baseado no uso, em que a gramática é construída, moldada e continuamente reconfigurada pela experiência comunicativa dos falantes, por suas práticas sociais e pelos padrões recorrentes de interação. Ambas convergem na premissa de que a estrutura linguística só pode ser plenamente explicada a partir do uso efetivo que os falantes fazem da língua em contextos sociais: a Sociolinguística destaca como fatores sociais condicionam a variação, e o Funcionalismo mostra que essa variação, reiterada na interação cotidiana, molda e reconfigura a gramática. Além disso, valorizam o tratamento de dados empíricos, especialmente da frequência de uso, como indicativo de processos de variação e mudança (Görski, 2006). 

Os estudos sociofuncionalistas iniciaram no Brasil na década de 1980, a partir de pesquisas orientadas por Anthony Naro e realizadas pelos membros do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua - PEUL. Cezario et al. (2016, p. 45) indicam que:

Tais pesquisas conciliavam a Sociolinguística variacionista com a linha funcionalista norte-americana, que tinha como principais referentes, naquele momento, Talmy Givón, Sandra Thompson, Wallace Chafe e Paul Hopper. Os pesquisadores buscavam observar não só os fatores estruturais e sociais, mas também fatores de cunho funcionalista, como informatividade, planos discursivos, iconicidade e marcação, a fim de explicar a variação ou a mudança linguística. Utilizavam para isso a metodologia variacionista no modo de coleta e análise de dados lançando mão de recursos estatísticos. 

Estudos com essa orientação, que buscam compatibilizar os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística e do Funcionalismo — originando uma terceira abordagem: o Sociofuncionalismo —, vêm se multiplicando em diversos centros de pesquisa, ampliando o diálogo entre variação e funcionalismo (Görski e Tavares, 2013).

Neste breve apanhado, buscamos apresentar os ganhos e vantagens da associação entre as teorias sociolinguísticas e funcionalistas como ferramentas importantes para os estudos de variação e mudanças linguísticas.

Além da variabilidade linguística ser um ponto de convergência entre as duas teorias, também a língua é concebida como um fenômeno contínuo, emergente, dinâmico e adaptativo, resultando da frequência de uso e de condicionamentos sociais.

Segundo Görski e Martins (2021) a variação linguística é o principal ponto de convergência dessa interface teórica: 

O principal ponto de convergência dessa interface é a variação linguística, que tem recebido basicamente dois tipos de tratamento analítico: (i) são considerados condicionadores de natureza funcional tanto para fenômenos variáveis de nível morfossintático como para fenômenos de nível textual/discursivo, no sentido de que a forma é a variável dependente e a função (entendida basicamente como significação semântico-pragmática contextualmente apreendida) é a variável independente (cf. NARO; VOTRE, 1992); (ii) o fenômeno variável é inicialmente delimitado dentro de um domínio funcional, cujas formas são resultantes de mudança(s) via gramaticalização, conforme o princípio da estratificação (HOPPER, 1991) – abordagem apontada por Naro e Braga (2000) e defendida com argumentos robustos no campo da sociolinguística por Poplack (2011) e Torres Cacoullos (2011), entre outros –, sendo a variação explicada por condicionadores funcionais que contemplam também, em alguma medida, as trajetórias de mudança dos itens envolvidos. Nessa segunda perspectiva, a multifuncionalidade dos itens também é considerada, pois o recorte da variável se dá em um domínio funcional, ou seja, no campo da coexistência de duas ou mais formas para uma função/significação.(p.184). Como vemos, ambas as teorias tomam a variação e a mudança como ponto de análise a fim de compreender os padrões que favorecem ou não a mudança linguística.

 

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Publicado

24-11-2025