CPT

CINQUENTA ANOS DE DENÚNCIA DOS CONFLITOS NO CAMPO NO BRASIL

Autores

  • Gilmar Muniz Garcia UFFS

Palavras-chave:

Comissão Pastoral da Terra - CPT, Conflitos no Campo Brasil, Movimentos Sociais de Luta pela Terra

Resumo

Em 2025 a Comissão Pastoral da Terra (CPT) completou cinquenta anos de uma longa caminhada de assessoria e pastoral junto às diversas comunidades do campo, aos movimentos sociais de luta pela terra, aos povos tradicionais e as comunidades quilombolas. Nesse período, a CPT foi uma companheira dos camponeses e denunciou ao Brasil a violência sofrida por essas comunidades por meio de um relatório anual intitulado Conflitos no Campo Brasil.

A CPT tem em suas origens, fatos anteriores à data em que foi criada, como por exemplo as denúncias realizadas por Dom Pedro Casaldáliga em sua Carta Pastoral intitulada Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social, publicada em outubro de 1971 (CPT, 1983, p. 31; 1985, p. 31; 1997, p. 40). A CPT surgiu da necessidade e do agravamento da situação dos camponeses e das comunidades tradicionais do Brasil, sendo que antes da criação da CPT,a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) estava presente no campo com a Pastoral Rural, os Movimentos de Ação Católica e a Juventude Agrária Católica (JAC), buscando reproduzir a Igreja na caminhada dos trabalhadores do campo, mas também se inserir nela (CPT, 1983, p. 88; 1997, p. 30; Benincá, 2008, p. 51).

Em novembro de 1974, durante a XIV Assembleia geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Pedro Casaldáliga propôs uma reunião entre os bispos e prelados da Amazônia Legal para ver a realidade da violência sofrida pelas comunidades locais devido ao avanço do agronegócio na região (CPT, 1983, pp. 36-37; 2002, pp. 78-79, Santos, 2021). Diante da situação foi marcado para o ano seguinte um Encontro Pastoral da Amazônia Legal. O encontro ocorreu em julho de 1975 no Centro de Treinamento de Lideranças da Arquidiocese de Goiânia e como resultado desse encontro foi constatado que o quadro de violência no campo assolava todo o Brasil e que deveria ser criada uma comissão de terras para melhor articular o serviço, culminando então com a criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT, 1983, p. 37; 1997, p. 34).

A CPT torna suas as reivindicações dos trabalhadores do campo, observando as reais aspirações do povo sem cair no populismo de dar como certo tudo o que o povo expressa (CPT, 1983, p. 73), bem como ser um serviço que busca assessorar as comunidades camponesas em sua organização popular e na reivindicação de suas lutas (CPT, 1983, p. 74; 1985, p. 39). Nesse sentido, faz-se necessário tomar o cuidado para que as comunidades assessoradas sejam os protagonistas de sua trajetória de luta, visto que a CPT cabe servir a causa necessária para a organização popular, mas as iniciativas devem ser dos próprios trabalhadores.

De forma a melhor servir a causa das mais diversas identidades camponesas[1] e denunciar a violência sofrida por eles, a CPT passou a publicar anualmente a partir de 1985 um relatório intitulado Conflitos no campo Brasil, sendo considerado a maior base de dados desse tipo no país e principal fonte de pesquisa do Brasil sobre a realidade da violência sofrida pelas comunidades do campo. Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo mostrar a trajetória CPT enquanto trabalho pastoral como também demonstrar sua importância na denúncia da violência sofrida pelas comunidades do campo.

 

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Publicado

24-11-2025