A MÚSICA MISSIONEIRA DE CENAIR MAICÁ
Palavras-chave:
História agrária; Música missioneira; Movimentos populares.Resumo
Este estudo integra uma pesquisa de doutorado em História, em andamento, no qual a música de Cenair Maicá está no centro, como parte de um movimento maior que chamaremos de “Movimento Cultural Missioneiro”, surgido na década de 1960 na região das Missões do Rio Grande do Sul. Barbosa (2014) afirma que a criação da música missioneira foi uma atitude dos “Quatro Troncos Missioneiros”, pois estavam insatisfeitos com o que havia de música naquele Estado. Ela se diferenciava do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) pelo seu tom de protesto e se aproximava dos movimentos rurais camponeses, que também se organizavam nesse período. Cenair Maicá e sua produção musical foram escolhidos, neste estudo, na busca por evidenciar sua contribuição na gestação e fortalecimentos dos movimentos rurais camponeses até a década de 1980, ou seja, como o “Movimento Cultural Missioneiro” participou como caminho para o fazer-se dos movimentos rurais camponeses.
Cenair Maicá foi um dos “Quatro Troncos”, junto com Jayme Caetano Braun, Noel Guarany e Pedro Ortaça. Cenair viveu na região de fronteira entre Argentina e o Brasil (Portalete, 2021), o que nos leva a compreender o caráter latino-americano de suas músicas. Essa condição favorecia ao reconhecimento de uma história comum dessa região, pela circulação dos habitantes que frequentemente cruzavam, construindo um pertencimento que transitava tanto de um lado, como do outro do rio Uruguai. Tal movimentação possibilitava enxergar uma realidade social paralela sobre o processo de exclusão social dos camponeses e dos povos originários.
Suas músicas passaram a ser reconhecidas porque denunciavam as mazelas da população camponesa, como na música “Terra Vermelha” (1980) onde o pão era dividido e a terra era o elemento. Esta música transmitia sentido, assim como a mística do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com a gaita do Adão Preto, como diz Marcon (2021) que, sem essa base, o Acampamento Natalino não teria sobrevivido. Zarth (2002) afirma que o acesso à propriedade da terra é um elemento central para o estudo da história agrária brasileira, problema apontado pelos movimentos rurais camponeses entre as décadas de 1960 e 1980 que passaram a questionar cada vez mais aquela realidade de exclusão (Tedesco, 2007).
