A PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS SOBRE A DEMOCRACIA
Palavras-chave:
Democracia, Educação, Cultura democrática, Estudantes universitáriosResumo
Ao menos desde a democracia Grega, a necessidade de incutir valores cívicos nos cidadãos se fez presente, sobretudo nas discussões clássicas promovidas por Platão e Aristóteles. Todavia, apesar do caráter formativo já estar inserido desde a antiguidade, foi apenas no século XX com John Dewey (1979) que esse debate recebeu novas perspectivas no campo educacional. O filósofo pragmatista acreditava que as relações entre educação e democracia iam além de uma explicação mais simples associada a uma concepção de forma governo embasada no sufrágio universal (Dewey, 1979). Para Dewey (1979) a democracia está relacionada a um modo de vida.
Essa abordagem da democracia enquanto modo de vida a ser experienciado (Dewey, 1979) ganhou força principalmente pela ampliação do regime/sistema democrático em diversos países no decorrer do século passado. Evidenciou, como destaca Honneth (2014), a urgência da reaproximação entre as teorias da política e da educação, uma vez que para ele existe uma intersecção entre a teoria da educação e a do governo, entre a ideia de formação e a política (Honneth, 2014). Desse modo, o caráter formativo da educação formal, principalmente a transformação de súditos em cidadãos (Saviani, 1999), fortaleceu a inter-relação entre educação e democracia, conforme é apontado por diversos autores, tais como Dewey (1979), Laval e Vergne (2023), Benevides (1996), Chauí (2009), entre outros.
Na análise do pedagogo holandês Gert Biesta (2013), a formação para a democracia, ao contrário de uma abordagem puramente instrumental, contempla o regime democrático na pluralidade e na diferença, no entendimento das instituições formativas enquanto espaços para a ação e vivência democrática. Segundo o autor, essa discussão perpassa um ambiente no qual os estudantes possam agir de forma democrática, onde tenham oportunidade real de tomada de decisões. De acordo com ele, a tarefa última de uma educação democrática não residiria apenas em instituições educacionais, mas em uma sociedade democrática como um todo (Biesta. 2013).
O contexto atual, nebuloso ao sistema/regime democrático e marcado pelo avanço desenfreado de políticas neoliberais e neoconservadoras (Apple, 2013, Levitsky; Ziblatt, 2023), tornou premente a necessidade de se rediscutir, entre outros temas, o papel das instituições educativas na formação democrática. Como argumenta Biesta (2013), ainda que a formação para a democracia perpasse a sociedade como um todo, é inegável que as escolas e as universidades proporcionam um ambiente formativo privilegiado para o florescimento da democracia e ação democrática. Para além de uma política curricular, a democracia depende de cidadãos democráticos, mais precisamente da tecitura de personalidades democráticas (Benevides, 1996).
Tendo isso em vista, a presente pesquisa está vinculada a uma investigação maior cujo objetivo é investigar a cultura política entre os estudantes universitários. Por ora optamos por apresentar uma parte dos resultados encontrados no estudo. Nosso intuito foi analisar as percepções dos estudantes universitários acerca da educação e a formação para a democracia. De forma mais específica, buscamos: (i) traçar o perfil etário, socioeconômico e de gênero dos estudantes; (ii) compreender, a partir da visão dos respondentes, se as escolas e as universidades têm contribuído na formação da cultura democrática entre os jovens; e (iii) averiguar de que modo as universidades podem contribuir na formação da cultura democrática e da participação política entre os universitários.
