VARIAÇÕES TEMPORAIS NA ALIMENTAÇÃO DE UM LAMBARI (Astyanax lacustris) NO RIO IJUÍ (RS, BRASIL)

  • Rodrigo Bastian Universidade Federal da Fronteira Sul
Palavras-chave: Rio Uruguai Conservação Peixes nativos

Resumo

Estudos de alimentação são importantes porque possibilita identificar categorias tróficas e observar padrões de dieta e variações na alimentação, proporcionadas pelas condições do ambiente na qual os peixes estão inseridos. Nas últimas décadas muitos trabalhos na área da alimentação foram realizados visando o estudo dos ritmos circadianos nos animais (BOUJARD; LEATHERLAND, 1992). O interesse no entendimento da variação diária da alimentação está diretamente relacionado ao conhecimento da organização temporal do comportamento e função dos organismos, e no desejo de predizer respostas fisiológicas ou encontrar eventos alimentares repetitivos ao longo do tempo. Entretanto apesar da importância desse tipo de informação são poucos os estudos que avaliam a variação nictemeral do consumo dos alimentos. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi conhecer a variação diária da alimentação da espécie Astyanax lacustris num ambiente lótico. As coletas foram realizadas num trecho do rio Ijuí conhecido como Salto do Pirapó (Bacia do Médio rio Uruguai, Brasil), durante três dias na estação do verão de 2017 em diferentes horários: 03h, 06h, 09h, 12h, 15h, 18h, 21h e 24h. A coleta dos peixes foi realizada com tarrafa, com o intuito de capturar dez indivíduos por horário. Os indivíduos capturados tiveram seus estômagos retirados e fixados em formol 4% para posteriormente proceder com a análise do conteúdo estomacal em laboratório com auxílio de microscópio estereoscópio e bibliografia especializada. Os organismos semelhantes foram agrupados em sete categorias alimentares distintas: Peixes, insetos alóctones, insetos autóctones, algas, material vegetal, sedimento e outros. Após a identificação do conteúdo estomacal, os itens foram armazenados em álcool 70%. Para a análise dos itens alimentares foram empregados os métodos de frequência de ocorrência, método volumétrico e aplicado o Índice Alimentar. Para verificar diferenças na alimentação nos diferentes horários foi utilizada a Analise de Variância (ANOVA unifatorial) e o teste a posteriori de Tukey nos índices alimentares. Foram analisados um total de 200 estômagos, dos quais 95% apresentaram conteúdo estomacal. Os itens mais presentes foram as algas e os insetos autóctones. A. lacustris se alimenta durante todo o dia principalmente no início da manhã (9h) (V= 3.280mm, P<0,05) e reduz sua alimentação durante a noite 24h (V=478mm) e 3h (V=361mm). Foi verificado também variação dos IA dos diferentes itens alimentares ao longo do dia, sendo verificado um maior consumo de insetos autóctones às 9h e 21h (P<0,05), algas entre as 6h e 18h (P<0,05), material vegetal às 9h (P<0,05), insetos alóctones entre às 21 e 24h (P<0,05) e peixes entre as 21h e 3h (P<0,05). Além dos itens alimentares, verificamos a presença de microplásticos no conteúdo estomacal de três indivíduos. Conclui-se que o A. lacustris se alimenta principalmente no período diurno e que ao longo das 24 horas ele varia sua dieta devido provavelmente ao fotoperíodo e a disponibilidade dos recursos alimentares.

Publicado
12-09-2022