REFLEXÕES ACERCA DO MÉRITO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

  • Silvia Lethicia Frandolozo Universidade Federal Fronteira Sul
Palavras-chave: Mérito. Meritocracia. Sistema Educacional

Resumo

O objetivo deste trabalho é tecer algumas reflexões acerca do mérito e da meritocracia no contexto educacional brasileiro, procurando compreender o que é o modelo meritocrático e de que forma ele influencia nas desigualdades sociais. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica ancorada nos escritos de Barbosa (2006), Dubet (2004), Sandel (2020), Souza (2009), Valle e Ruschel (2010) entre outros autores. A meritocracia surgiu como forma de acabar com os privilégios da aristocracia hereditária e acaba sendo uma forma justa para conquistar o sucesso, já que, a priori, as oportunidades são iguais para todos e o resultado depende do esforço e dedicação de cada um. Ocorre que o modelo meritocrático desconsidera as variáveis sociais, bem como as diferenças e, neste contexto, pessoas com condições privilegiadas de acesso e permanência a uma educação de qualidade são exemplos de vencer pelo próprio esforço enquanto as que tiveram acesso precário e, mesmo assim alcançaram o sucesso, representam a exceção, não a regra. Destarte, a meritocracia é legitimada e naturalizada pela sociedade tornando imperceptível a relação intrínseca do desempenho com as condições de vida. A desigualdade se perpetua na medida em que os que tiveram mais oportunidades terão melhor desempenho acreditando que suas conquistas resultam unicamente de seu próprio esforço, enquanto, do outro lado, os que tiveram chances reduzidas e baixo desempenho terão o insucesso atribuído à falta de dedicação e capacidade, corroborando a suposta justiça do resultado. Assim, a meritocracia associa o orgulho dos vitoriosos ao desprezo pelos perdedores, o que a torna intolerável e cruel para a maioria dos indivíduos. A crença na meritocracia dá condições para reprodução das desigualdades, pois despreza as diferenças sociais e econômicas e pensa os sujeitos isolados, em um mundo paralelo, distante das questões sociais que os cercam. Negligenciar os privilégios implica em desvincular o indivíduo das suas condições sociais e econômicas, neutralizando todos os fatores que condicionam as oportunidades que cada um tem de desenvolver suas habilidades ou até adquirir qualificações mais valorizadas. Desta forma, a falácia do modelo meritocrático funciona como um motor fundamental para a naturalização dos resultados desiguais que legitimam e reproduzem as desigualdades sociais, sendo também uma referência no sistema educacional onde o mérito é utilizado como parâmetro para selecionar os melhores estudantes. Conclui-se o estudo com a defesa de que a igualdade meritocrática está longe de ser justa, porque ignora as diferenças que continuarão existindo no processo, mesmo que o ponto de partida seja igual para todos. O mérito individual existe e é importante que seja reconhecido, mas é necessário perceber que os resultados sofrem grande influência das variáveis que os indivíduos estão expostos socialmente.

Publicado
19-10-2022