FAZERES PEDAGÓGICOS PARA SE PENSAR A PROFANAÇÃO DO CURRÍCULO CONTEMPORÂNEO E A FORMAÇÃO DOCENTE

  • Alexssandro Schappo UFFS
Palavras-chave: Neoliberalismo. Estética. Profanação.

Resumo

A presente pesquisa tem por objetivo investigar as possibilidades e resistência frente aos avanços de um processo educativo neoliberal que normaliza os corpos que nele se inscrevem. Benvenutti e Strieder (2019, p.80) apontam que uma educação preocupada essencialmente com o desenvolvimento econômico “renuncia imprudentemente a qualificações indispensáveis à sobrevivência dos seres humanos como humanidade”. Desse cenário surge um corpo-professor subjetivado pelo conhecimento de manual, que segundo Loponte (2003, p.78/79) “(...) ainda esperam com ansiedade receitas de ‘salvação’ para suas práticas pedagógicas, que alguns especialistas iluminados lhes mostrem o caminho da entrada da caverna e de toda a verdade para a docência”. Sem saber que o mundo luminoso que se desdobra para fora da caverna pertence ele mesmo ao mundo sombrio.  

 Desse panorama nasce a necessidade de uma educação de resistência que subverta essa lógica ao proporcionar o desenvolvimento de uma sensibilidade que abrace o corpo, as sensações. Merleau-Ponty (2013, p. 37) nos lembra que “O corpo é para a alma seu espaço natal e a matriz de qualquer outro espaço existente”, Corpo este que também será o ponto de catarse da experiência estética, como esclarece Meira (2007, p. 57) “[...] estética é sempre um conceito recorrente, contingente, contextual, não tendo como finalidade definir-se como verdade absoluta. Essa recorrência faz o pensamento estético voltar sempre às sensações que são os sensores do corpo, aquilo que faz a interface com a vida”. Estar disposto a tornar-se um espaço de acontecimentos é fundamental para que se instaure uma experiência que se passa em nós e não por nós, como destacado por Larossa (2000), por mais que os mecanismos pareçam se deslocar cada vez mais na direção contrária; segmentando, fragmentando, fomentando um capital que encontrará a destruição em si mesmo.

Com base nos estudos em Foucault, Taylor (2018, p. 230) assinala que “(...) temos de reconhecer que participamos ativamente de nossa autoconstituição e, portanto, possuímos a capacidade de nos envolver em tal análise”, ressaltando a ideia de que nossa subjetividade não se basta na “descoberta” de quem somos, mas que se trata de um entendimento do que significa ser, em movimentos constantes de analisar criticamente sua prática e seu entorno. A prática da crítica, segundo Taylor (2018), torna-se um recurso para construção do eu e de afirmação no mundo, uma forma de questionar as relações de poder dentro de um regime de verdade, um comportamento que Foucault (1990) chamaria de “indocilidade reflexiva”. Nóvoa (apud SOARES e SOUZA 2008, p.199) aponta que “A crise de identidade dos professores, objeto de inúmeros debates ao longo dos últimos vinte anos, não é alheia a essa evolução que foi impondo uma separação entre o eu pessoal e ao eu profissional”, contribuindo para a efetivação de uma linha discursiva que aumenta o controle sobre os professores. As histórias de vida como ponto de partida epistemológico contribuem para se pensar um movimento que não mais segregue o corpo professor de sua identidade. Soares e Souza (2008, p.198) afirmam que esse processo proporciona momentos de auto-reflexão “conduzindo a compreensão e análise da conduta pessoal, da valorização de si mesmo como pessoa profissional, dentre outras questões fundamentais”.

            Para apontar caminhos possíveis essa pesquisa recorrerá à produção bibliográfica e a experiência do percurso formativo do autor. Nesse sentido, invocamos a presença do conceito de profanação, cunhado por Agamben (2007), como um dos principais recursos para se pensar essa narrativa. O autor identifica na profanação a procura de diferentes possibilidades de uso para algo que já nos parece definido, e exemplifica a apropriação das crianças por assuntos e atividades que nos habituamos a encarar como sérias, trazendo-as para o âmbito das brincadeiras, do jogo, do reuso. Somos convidados a tomar as rédeas de nosso fio de Ariadne, num movimento simbólico de tomada de consciência e protagonismo do nosso processo de individuação, tendo em mente que a suposta saída se trata da entrada em um novo labirinto.

Publicado
16-11-2021