OS ESCRITOS DE BUCHI EMECHETA, AYÒBÁMI ADÉBÁYÒ E SEFI ATTA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA MULHER NEGRA AFRICANA DIASPÓRICA

  • Thalia Faller Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó
Palavras-chave: Literatura africana, Identidade, Mulher negra

Resumo

Por meio da Lei 10.639/2003 tornou-se obrigatório na rede de educação nacional o ensino de história da África no Brasil (BRASIL, 2003). A determinação, resultado da luta do movimento negro, compreende que o continente está em conexão com a construção do território brasileiro e que aprender sobre África é um movimento de saber sobre a realidade brasileira. A população negra em uma escala global, através do pensamento racial, é vista por meio de uma coletividade generalizada que entende seus posicionamentos como universais em todos os territórios. Dentro das diversas generalizações, exclusões e silenciamentos sobre indivíduos não-brancos, e a África, se encontram as imagens sobre a mulher negra. À vista disso, a literatura africana escrita por mulheres, tomada como documento pela História, é um caminho possível para entender e investigar a mulher negra africana, a fim de valorizar suas experiências e saberes, analisando as imagens e identidades construídas por escritoras negras africanas em suas narrativas ambientadas em países da África. Parte-se do pressuposto que nestas construções delimitam e marcam lugares sociais, pertencimentos e sentidos que são erguidos a partir de seu espaço de enunciação geográfico, cultural e social em uma perspectiva que humaniza as mulheres e homens do continente. O presente trabalho pretende analisar a construção da identidade da mulher negra africana diaspórica nas narrativas de Buchi Emecheta, Sefi Atta e Ayòbámi Adébáyò, escritoras, mulheres negras, diaspóricas, nascidas na Nigéria, que retratam e descrevem em seus romances uma identidade diferente da atribuída pela branquitude para as mulheres africanas diaspóricas, e suas comunidades, e da História criada pelo viés eurocêntrico sobre o continente africano. O recorte temporal se estabelece na Nigéria entre a segunda metade do século XX e início do século XXI, tempo de produção das obras: “As alegrias da maternidade”, de Buchi Emecheta, “Tudo de bom vai acontecer”, de Sefi Atta, e “Fique Comigo” de Ayòbámi Adébáyò. Compreende-se que as identidades são construídas historicamente nas relações sociais e que por meio delas os indivíduos se movimentam (HALL, 2006; MUNANGA, 2015; BAKARE-YUSUF, 2003). Ademais, as identidades criadas pelas mulheres negras africanas diaspóricas, as quais as situam dentro de suas histórias locais que são conectadas por dimensões de opressões globais, partem de suas interpretações, experiências e definições que problematizam a estigmatização da mulher negra africana, complexificando o lugar social da mulher negra, entendendo-a a partir de suas diversidades (COLLINS, 2019; NFAH-ABBENYI, 2005). A metodologia utilizada se insere no campo da História Social e seu diálogo com a literatura. Para Pesavento (2003), História e Literatura são narrativas que possuem como referência o real. As duas maneiras de conhecer a experiência humana, com aproximações e distanciamentos de acordo com suas intenções e métodos, estão inseridos no tempo de suas produções. Além disso, segundo Chalhoub (2009), a literatura traduz a lógica social e torna capaz a/ao historiadora/or refletir sobre modos de pensar as questões sociais no tempo da escrita. A obra literária deve ser analisada situando-a no contexto sócio-histórico de produção, perfazendo os caminhos da narrativa, os personagens e as alegorias criadas para dizer para além do que está posto. A literatura como fonte, de acordo com o historiador, deve ser lida lentamente, pois cada frase e cenário pode enunciar sobre o que a autora está pensando sobre o seu tempo. Para a História Social uma obra não deve ser essencializada, já que está situada em experiências coletivas e informam sobre conflitos e problemas que não estão isolados no indivíduo que escreve. Devido as experiências das autoras na diáspora, suas escritas estão mediadas por vivências em outros lugares para além da Nigéria, escrevendo, assim, a partir de um lugar ocidental, o diaspórico, sobre a tradição e o lugar africano entre tensões locais e globais. Sendo assim, ao escrever sobre o seu local de origem estão observando a Nigéria em um contexto histórico de independência e reestruturações nacionais, pautando questões centrais para a compreensão do mundo moderno como colonialismo, modernidade, ditaduras, violência, gênero, classe e ocidentalização. Além disso, suas experiências como mulheres são locais prestigiados para entender problemáticas sociais da Nigéria e categorias postas como universais pelo pensamento eurocêntrico como gênero e raça.

Biografia do Autor

Thalia Faller, Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó
Publicado
16-11-2021