LEITORES DE MANCHETES: UMA BREVE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NAS REDES SOCIAIS EM CHAPECÓ/SC

  • Nilmar Fernandoj Jevouski UFFS
Palavras-chave: Geografia. Ciência. Imprensa

Resumo

Com os avanços tecnológicos, o tradicional jornal impresso esta gradualmente sendo substituído por outras plataformas, e uma delas são as chamadas redes sociais que somadas a movimentada vida cotidiana, tornam-se fontes rápidas de notícias para milhões de brasileiros. O objetivo principal desta breve reflexão é demonstrar como os usuários de redes sociais reagem e interagem com notícias publicadas por determinados órgãos da imprensa chapecoense na rede social Facebook. Para isto buscamos uma notícia de relevância nacional e que despertou curiosidade, assim foi selecionada uma relativa ao quantitativo populacional brasileiro para o ano de 2021. Partindo de estudos sobre a imprensa em tempos de redes sociais (TUZZO, 2013) nosso aporte teórico também conta com as contribuições sobre a importância da geografia teorética quantitativa (FAISSOL, 1978) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para a sociedade (GONÇALVES, 1995), concluindo com reflexões sobre o negacionismo da ciência desenvolvidas pelos autores Marques e Raimundo (2021). As diversas sociedades tem interesse e curiosidade em saber quantos são, como vivem, características, nascimentos, óbitos, renda e outros fatores. No Brasil são utilizados para este retrato estatístico os recenseamentos decenais feitos pelo IBGE. O último realizado foi o Censo Demográfico 2010, embora tivéssemos outro programado para o ano de 2020, o mesmo não se concretizou devido à restrições orçamentárias, então projeta-se a sua execução para 2022. Na falta desta contagem em todos os domicílios, o órgão publica anualmente uma estimativa populacional no mês de agosto com critérios geográficos e estatísticos. Esta estimativa serve como referência para vários indicadores sociais, econômicos e demográficos, além do cálculo de recursos financeiros a que os estados e municípios terão direito, feito pelo Tribunal de Contas da União. Em 27 de agosto de 2021, houve a publicação no Diário Oficial da União das estimativas de população residente no Brasil- 213,3 milhões- e alguns órgãos locais de imprensa (Rádio Chapecó FM, Balanço Geral Oeste SC) publicaram a informação em seus sites, e para maior alcance postaram o link em seus perfis na rede social Facebook. Consultando esta rede social pública e gratuita, que é acessível à maiores de 13 anos através de uma conta de e-mail e senha, percebemos que várias pessoas duvidaram desta notícia e da pesquisa publicada pelo IBGE, negando e contestando estas cifras quanto ao número de habitantes de Chapecó/SC- cidade pólo do oeste catarinense- onde esta localizada a Reitoria da Universidade Federal da Fronteira Sul, e que o órgão estima 227.587 habitantes. Alguns internautas questionam o dado em seus comentários, e não são por razões científicas, apenas usando o senso comum, pois não receberam nenhuma visita, ou então dizem que só “conta quem nasce e morreu durante o ano”, “Tem muito mais, tá furada essa estimativa!”, outros: “será que é confiável esse IBGE”. A partir destas análises obtidas na breve pesquisa, podemos considerar que uma grande parcela da população desconfia do trabalho realizado por instituições públicas e empresas jornalísticas, além de consumirem superficialmente as notícias, lendo apenas a manchete e não se interessando pelo detalhamento e maiores explicações da metodologia empregada, e que constavam no corpo do texto jornalístico. Vivemos em um Estado Democrático de Direito onde é permitido o livre pensamento e manifestação de crenças e opinião, mas o questionamento sem fundamento, apenas por divergir do “achismo” próprio, com o objetivo de desacreditar instituições respeitadas, sejam elas acadêmicas ou da imprensa, contribui para que um negacionismo científico conquiste cada vez mais adeptos. Nos últimos anos esse sentimento vem acompanhado de teorias terraplanistas, notícias falsas, dúvidas sobre vacinas, ódio contra as minorias e o contraditório, insuflado principalmente por figuras messiânicas (políticos, figuras públicas, cantores sertanejos, fanáticos) e atrapalhando todos os campos da vida em sociedade. Portanto, na condição de cientistas e cidadãos, devemos ocupar os espaços e aproveitar cada oportunidade para defender a Ciência e o livre exercício da Imprensa.

Publicado
07-11-2021