JOÃO DO RIO PELA CRÍTICA LITERÁRIA:
CONTESTAÇÃO E SILENCIAMENTO
Resumo
João Paulo Alberto Coelho Barreto, mais conhecido pelo pseudônimo literário João do Rio, foi um escritor brasileiro, nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 1881. Cronista, contista, romancista e também teatrólogo, o carioca é apontado como responsável por uma revolução no modo como se fazia jornalismo no Brasil, pois deixou as salas de redação e saiu às ruas em busca de histórias para narrar. Este hábito, conhecido como flânerie, foi um dos que marcou a singularidade de João do Rio no cenário das letras nacionais. Sua produção literária data das duas primeiras décadas do século XX, período, em literatura, denominado “Pré-Modernismo” por Tristão de Athayde (1939). João do Rio obteve relativo sucesso ainda em vida, alcançando altos números de vendas com os livros de crônicas e reportagens e As religiões no Rio (1906) e A alma encantadora das ruas (1908). O primeiro alcançou a marca de 4 mil cópias vendidas, e foi um dos maiores sucessos editoriais do período. Para termos uma dimensão da grandeza destes números, Sevcenko (2003) destaca que, no restrito mercado editorial brasileiro, a venda de 1100 cópias caracterizava um grande sucesso em se tratando de um livro de prosa. No entanto, após a morte do escritor, em 1921, pouco se escreveu sobre ele durante cerca de cinquenta anos, e as escassas análises que o mencionavam, apontavam um escritor fútil, interessado apenas em agradar a elite dominante, preocupado exclusivamente em alcançar prestígio junto à classe dominante. Assim, o objetivo deste trabalho consiste em reconstituir os caminhos da crítica literária acerca de João do Rio e do período 1900-1922 – ou “Pré-Modernismo” – a fim de levantar hipóteses sobre os motivos que levaram o escritor e sua obra ao ostracismo. Para isso, revisitamos textos de Veríssimo (1901), Carvalho (1937), Miguel-Pereira (1973), Candido (1980; 2006), Broca (1991), entre outros, que versam tanto sobre João do Rio quanto sobre o “Pré-Modernismo”. Durante nossas análises, percebemos que, ao promover uma comparação entre a produção literária do período 1900-1922 e o Modernismo, parte desta crítica considera-a como uma literatura satisfeita, sem maiores inovações temáticas, formais e estilísticas, caso, por exemplo, de Candido (2006). De outra parte, a incorporação de diferentes estéticas que ressoavam no contexto fin-de-siècle pelos escritores brasileiros, tal como ocorre com João do Rio e o Decadentismo, contribuiu para caracterizar os textos nacionais como meras cópias dos europeus. Assim, tendo pouco a oferecer em termos de inovação ao mesmo tempo em que reproduziam, de modo artificial, estéticas estrangeiras, restaria pouco ou nada relevante a se destacar neste período, sejam autores ou obras.